sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O PENSADOR E SEU CÃO

                                                                    LACAN



Não sei quando fiquei fóbico por cachorros. Nas fases mais criticas da vida um cão na rua era um sinal claro que deveria ir para a caçada do outro lado. Como os via longe, às vezes tinha de atravessar e dês - atravessar a rua mais de uma vez, sempre em fuga.

Depois de casado, tivemos dois cachorros para as crianças, sempre no quintal. Eu os ignorava, só não tinha medo, pois eram pequenos.

Há cinco anos, já com os filhos com vida própria e lar vazio, a esposa Ana e eu, recebemos a visita do filho mais velho e da nora com seu novo rebento, um York Shire mini de nome Gnochi, que ficaria hospedado no apartamento onde moramos atualmente. Era um animal novo, ao redor de um ano, Ficaria alguns dias até eles voltarem de férias.

Como houve boa interação do animal, resolvemos comprar igual, já que uma noite por semana dormia no plantão, e o cachorrinho faria companhia à esposa.

Mãos a obra, procuramos um criador que exibisse pedigree. Escolhemos o animal que fixou a Ana, e o trouxemos com menos de dois meses, apesar de meus protestos com o criador. Acreditava que o animal deveria ter mais convivência com a mãe. Em vão. Demos-lhe o nome de Lacan de comum acordo.

Resolvi tomar as rédeas da criação. Já de inicio discordei da quantidade de ração, o animal não deixava resto daqueles grãos escuros que vinha na embalagem. Lembrei-me dos filmes sobre animais, sempre gostei, onde o animal abate a presa, come e quando farto se retira, não come até acabar. Ali acabava. Mudei o sistema, que se farte! Houve protestos, mas sempre dava um jeito de burlá-lo.

Comprei também os livros de adestramento. Mas, cheguei à conclusão que não estaria criando um animal, mas sim um autômato, que faria demonstrações da capacidade do dono. Dei-lhe autonomia. Que se adaptasse a vida em apartamento sem repressões.

Como Ana viajou para o interior, fiquei responsável pela guarda do Lacan, comecei fazer minhas descobertas: que como os humanos tinha um espaço intermediário, um paninho. Meus filhos também o tiveram. Conferi em Winnicott. Este falava também que a criança preferia um objeto macio a um duro. Fui ao hipermercado. Comprovado.

Com o tempo criou hábitos próprios. Hora de levantar, não gosta de levantar cedo. Horário de jogar bolinha, no final da tarde. Hora de jantar. E principalmente, hora de passear de carro, quando não é possível, fica amuado.

Como todo cachorro, Lacan late quando latem os cachorros da vizinhança, mas acredito por obrigação, não gosta de sair do lugar para latir. Late de sua cama.

Também aprendeu a pedir tudo que quer  por lambidas, não late e não desenvolveu nenhuma agressividade. Não consegui ainda entender a comunicação telepática, quando quer algo fixa o olhar com o corpo imóvel. Este código tem que ser resolvido por acertos e erros.

O Lacan é adorável e companheiro, se ficar só, chora. Uma única coisa não deu certo, o mini-cão pesa seis quilos.










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