PARA NA FORMA DE CRIANÇA.
Para na forma de criança,
Pequeno anjo maltrapilho, esfarrapado.
Não tenhas nunca as formas delineadas,
Não te avultem os seios,
Para! Não cresças!
Não podes crescer.
És pequena criança esfarrapada,
Jogada na rua, com risonha inocência.
Não sente faltas de vestes brancas,
Não sentes falta de teto sólido,
Por hora nada importa a ti
O que joga a sorte.
Por hora tudo são risos
Tudo é inocência
Não cresças pequeno anjo.
Quando em ti as formas se delinearem
Quando junto com elas vier a malicia,
Que poderás esperar?
Colherás migalhas como agora fazes?
Farás o que?
Nada de bom te ensinou a sociedade,
Nada poderás apresentar a ela.
Ah infeliz! Serás uma em mil se escapares.
Agora que estás na infância
Não percebes a falta de um lar,
Mas, depois?
Onde construirás teu ninho?
Errarás de plaga em plaga,
Como ser anônimo?
Como viverás?
Haverá horas que a fome apertará,
Haverá horas que vestes caras a atrairão,
Terás horror de tuas vestes rotas,
Terás vergonha, Terás revolta,
Não serás ninguém.
Pobre de ti!
Não cresças criança ingênua e inocente
Que em andrajos, corres pelas sarjetas, despreocupada.
Não cresças! Para! Não te cresçam as formas,
Não procure conhecer a sociedade,
Para na forma de criança em andrajos,
Para na forma de criança inocente
Da qual se esqueceu a sociedade.
1965
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