domingo, 25 de setembro de 2011

PRIMEIRO EMPREGO

  



A Livraria Cultura em 1969 ocupava uma casa de três andares na Rua Augusta, quase esquina com a Alameda Lorena. Com catorze anos era meu primeiro emprego. Comecei todo envaidecido, em casa meu pai assinava três jornais, comprava dois livros mensais que na época eram entregues a domicilio: Coleção Saraiva e Clube do Livro, sempre com romances de boa qualidade por um preço módico, Não bastasse o Sr Carlos, um dos pioneiros em publicidade, em São Paulo, contato do Jornal Shopping News, ainda

Freqüentava livrarias e principalmente sebos. Creio que foi com sua interferência que arrumei o emprego, difícil na época.

A casa tinha, se não me engano, uma garagem que não fazia parte da livraria e subindo a escada havia um terraço, onde os livros de bolso eram expostos, terraço este que contatava um quarto-sala, através de uma janela onde era a biblioteca circulante, com um pomposo nome em alemão.

Internamente as outras salas eram abarrotadas de livros, e a escada para o andar de cima

Nunca subi, creio que Da Eva e o Sr Kurt faziam residência. Hoje sei que foi pouco antes de mudar para o Conjunto Nacional na Av. Paulista.

Minha tarefa consistia em olhar os livros de bolso e chamar o vendedor se alguém se interessasse;  levar os livros escolhidos as residências e trazer os já lidos. Apesar dos títulos serem todos em alemão, conseguia me virar, pois a colônia alemã era grande no Jardim Paulista e até conseguia falar bom dia, boa tarde e até logo na língua Germânica.

Logo nos primeiros dias a primeira decepção do emprego, na época me deixou revoltado, entregando os títulos na Av. Nove de Julho, próximo ao túnel, o porteiro obrigou-me a subir no elevador de serviços. Fiquei indignado, como pode cultura entrar pela porta de trás, a mesma deveria entrar pela frente e com fanfarra. Fiz a troca de livros.

Algum poucos dias depois chegou uma encomenda da Editora. Eram duas ou três caixas

de livros, e como não tinha nenhuma atividade, foi me destinado conferir os mesmos. Não tendo nenhuma experiência, lembrei-me que já havia chegado livro em casa com pagina não impressa e outro com defeito na hora de encadernar. Abri todas caixas e conferi livro por livro. Ganhei uma bronca, não me lembro de quem, era só para contar os volumes. Mesmo assim não entendi. Como poderia entregar livros com páginas com defeito?

O pior aconteceu depois de mais poucos dias. Choveu, a escada de piso fica obviamente escorregadia, como a grande frente de quatro metros. Deram-me um rodo e mandaram tirar a água. Fiquei revoltado. Primeiro morava a três quadras e era conhecido. Segundo meu pai tinha endossado uma conta bancaria para receber meu primeiro salário e o banco ficava na esquina. Que diria o gerente? E o pior fui trabalhar para transmitir cultura e não rodar chão. Pedi a conta.

Obs. Hoje compro na Livraria.

Quanto ao trabalho do menor, que antes formavam classes noturnas; que com a carteira de trabalho, o aluno era regularmente matriculado, foi depois proibido para proteger o menor, o que discordo. Todos meus amigos trabalharam e levam até hoje suas vidas de forma digna.


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