Atendi há seis meses Dona Esmeralda, como segurada de um pequeno convênio. Esta senhora, de quase setenta anos tivera um acidente vascular cerebral e estava com o lado direito do corpo semi paralisado; o que a obrigava a fazer uso de uma bengala. Estava feliz por não ter perdido a fala, como acontece na maioria dos doentes dessa enfermidade.
Além da medicação necessitava de fisioterapia continuada. Era uma pessoa de formação adequada; fez um convênio que, embora o mais barato, lhe facilitaria o tratamento.
Feita a consulta: a medicação era correta e devia ser continuada, restando apenas controlar os exames e prescrever as fisioterapias necessárias. Aí residia o problema. Todos os procedimentos necessitavam de autorização do convênio, o que demandava tempo e deslocamento. Como não possuía carro e o transporte público é dificultoso para uma pessoa nestas condições; não havendo nenhum familiar disponível para atendê-la: vinha sempre sozinha.
Após vários sacrifícios impostos a paciente a encaminhei ao Centro de Saúde, onde também atendia e, a burocracia por incrível que possa parecer é bem menor.
O Centro de Saúde funciona em um prédio antigo, portanto com uma arquitetura bastante ultrapassada para os padrões atuais. Há um novo prédio de especialidades, mas a parte clínica e burocrática permaneceu no edifício antigo, justificado e com razão, por ser um bem público não podendo ser descartado.
A paciente foi bem atendida pela idade e doença. Sempre foi prontamente encaminhada, na condição de preferencial. Parou de pagar o convenio, podendo usar o dispêndio mensal para suas necessidades.
Há alguns dias, após uma consulta rotineira, a mesma me falou que o “Governo” tinha que melhorar a saúde. Realmente fiquei perplexo:
-Mas a senhora não está sendo bem atendida?
-Estou, mas e os outros?
-O padrão de atendimento não muda, o que a Senhora apurou de errado?
-Aqui é bom, mas a televisão falou que esta ruim, tem que melhorar.
Com já atendi em outras cidades no Estado de São Paulo, sei que o atendimento não difere, podendo apenas haver piora em cidades maiores, pela demanda. Expliquei.
Não sei se convenci.
Lembrei-me do livro de Bauman “O medo liquido” onde o domínio do cidadão é efetuado através do medo. Uma pessoa doente, portanto insegura, está propensa a se aterrorizar com qualquer informação que lhe imponha um possível risco; como no caso de minha paciente, onde as noticias sensacionalistas, não importa se reais ou não, sem a clara colocação da situação apurada e, seus reais motivos, nunca didaticamente explicados na mensagem telegráfica do noticiário, levam a uma generalização, que no doente é transformada em pânico, dada a insegurança presente no mesmo pela doença.
Este tipo de jornalismo é sim um fator prejudicial ao tratamento.
Dona Esmeralda continua me visitando e sendo atendidas suas demandas médicas. Porém, não sei quando deverei iniciar antidepressivos, para tratar a televisionite.
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