segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DIGNIDADE








Era domingo de manhã. Tomava meu café com pão e manteiga na padaria ao lado de minha casa. Era o que todos paulistanos, como eu, faziam ao acordar num fim de semana.

Um Senhor já idoso, com a perna quebrada e corrigida por um Lisarov, com muletas e uma valise na mão; mal vestido, acabava seu café. Deu dez centavos de gorjeta ao balconista. Chamou-me atenção o inusitado. Pobre e dando gorjetas no balcão da padaria.

Nisto o balconista intervêm:

- E a conta? No que foi rapidamente retrucado

-Como, nesta condição? Enquanto falava mostrava a perna.

Os balconistas se agitaram e o senhor saiu, sem pagar, demonstrando grande indignação.

Os demais fregueses, bem como o dono, ficaram atônitos. Não houve outra reação além da indignação do não pagante.

Não vi esta transgreção com repudio, poderia perfeitamente pagar o café da pessoa, e normalmente o faria. Antes vi a dignidade da ação. Pode um homem em total desequilíbrio social se rebelar? Liberdade é: apenas duas moedas na carteira para pagar uma conta? Pode um ser humano ser impedido de tomar um café e comer um pão por estar impossibilitado de trabalhar? Tem o ser humano que mendigar?

É lógico que numa sociedade capitalista, onde o dono do estabelecimento tem que pagar seus impostos, funcionários e tirar seu lucro, não cabe doações a necessitados. Cansei de ver pedinte ser humilhado e expulso; no máximo recebendo um salgado do dia anterior do lado de fora do estabelecimento. O capitalismo não permite solidariedade. Dizem:- Isto é função do governo! Mas a classe média é a primeira a condenar qualquer tipo de inclusão positiva. A Bolsa Família é um exemplo, é até hoje hostilizada, inclusive por pessoas tidas como cultas.

Este senhor, não se humilhou. Não pediu comiseração. Apenas matou a fome e deu gorjeta. Saiu ainda reclamando seus direitos. Fala-se: A miséria não faz guerreiros e sim pedintes. Ele não optou nem por um, nem por outro. Manteve a dignidade.

Não conversei com ele, creio que o mesmo me diria se perguntasse:

-A sociedade é o conjunto dos elementos e estes devem se ajudar mutuamente, sem humilhações. Não pude pagar o pão; mas pude recompensar o balconista. Um dia volto para pagar a conta.

Seria tão bom se fosse assim!


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