quarta-feira, 16 de novembro de 2011

FÉRIAS EM ARARAQUARA.





Por três anos, após nascimento de minha única irmã, quando tinha oito anos, fui despachado nas férias para casa de Tio Dante em Araraquara. Era sempre no inicio do ano após as festas. Parava o caminhão, meu tio tinha dois, o motorista me levava de férias. Gostava já de inicio da viajem. Tinha uma parada obrigatória num restaurante à beira da estrada, onde o motorista almoçava e eu comia um sanduíche de churrasco com queijo. Mas a fatia de queijo tinha quase um centímetro, em casa não conhecia esta fartura.

Na casa de meus tios jogava bola como em São Paulo, só mudavam os jogadores, comia muito bem; Tia Nena levantava antes de todo mundo para começar o almoço, passava o dia na cozinha e era a ultima ao deitar. Quem me vigiava era Terezinha, minha prima bem mais velha, de quem sempre gostei muito. Tinha a prima Vera mais nova e o Carlinhos, da minha idade, com quem brincava.

Destas viagens guardo duas boas lembranças. Minha mãe achava que criança não tinha frio. Naquele tempo se usava calça curta. São Paulo sempre fez frio e tinha de agüentar. Os outros alunos começaram a usar calças compridas e eu passava frio. Naquele ano era o único aluno da classe que não tinha calças de adulto, como se dizia na época. Meu tio percebeu a situação e arrumou uma costureira. Com uma calça do Carlinhos fez duas calças cor caqui para mim. Lembro até hoje minha alegria.

Mas o que marcou mesmo foi a farmácia. A casa de meu tio era na esquina da Feijó. Tinha um terraço pequeno onde todos sentavam. Em frente tinha o armazém e vendia sorvetes, lá faz um calor danado. Na outra esquina o quintal murado de uma casa e na faltante a referida farmácia. O farmacêutico, muito respeitado na cidade tinha grande freguesia. Entre os clientes, parava a tarde uma charrete e desciam sempre uma moça bonita. Cada dia a moça era diferente, mas a beleza continuava. Para um moleque chamava atenção.

Carlinhos contou que eram mulheres da Zona. Toda molecada ficava esperando as moças bonitas descerem da charrete. Na época sexo era tabu. Em famílias descendentes de Europeus católicos, como a nossa, era proibido até citar a palavra.

Claro que a molecada fazia fantasias e teorias próprias. Achávamos que a mulher quando casava e fazia sexo, [antes do casamento para nós não existia este ato imoral], o quadril alargava e começava a andar com as pernas mais abertas. As moças “faladas” pela família eram atentamente olhadas pelo traseiro, para ver indícios. As fantasias rolavam soltas. Mas, Zona? Os do interior não estranhavam, mesmo não entendendo direito. Mas para um paulistano, era alguma coisa inacessível ao imaginário. Não dava nem para pensar. Só sabia que as lindas mulheres, bem vestidas iam tomar injeção, eram da tal zona e o farmacêutico é que aplicava. Ela abaixava a calcinha e ele ia ver tudo. Sem roupa a moça tão inacessível! Morria de inveja. Não tinha dados para viajar muito mais longe. Mas a excitação era muito grande.

Com o tempo parei de ir às férias para lá. Cada um da família tomou seu rumo. Nada especial. A farmácia hoje é uma grande rede, creio que não foi por causa das moças bonitas, bem vestidas, que iam tomar injeção.

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