domingo, 15 de janeiro de 2012

LACAN MEU CÃO





LACAN MEU CÃO



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Quando Ana vai ver a netinha fico só. Apesar dos inconvenientes de fazer comida e cuidar do Lacan, sinto o gosto do silêncio e da TV desligada sem o barulho inútil de sua programação de má qualidade.

Dedico-me a ler meus livros, sem reclamações. Ana acha que compro muitos livros e as estantes não dá conta: Quanto às estantes: tenho que fazer outras; quanto à quantidade é a necessária para meu gosto.

Lacan é uma companhia adorável. Raramente late. Está sempre alegre abanando o rabo, embora seja meio tramista e fique me cortejando com suas lambidas para receber guloseimas. Acho que por isso está com sete quilos sendo raça pequena Yorkshire.

Com ele entendi em outra feita como é o apego do objeto transicional. Winnicot, um grande psicanalista, relatou em seus livros que a criança se apega a um objeto macio, geralmente um pano, [na Monica do gibi é o coelhinho,] para enfrentar o mundo hostil. Relatou que os cachorros usam o mesmo expediente. Como Lacan já tivesse o paninho, um velho colete de lã verde, comprei uma bola dura e outra mole para comprovar o macio da teoria. Estava certa. O homem enfrenta o mundo agasalhado e em contato com coisas macias, ou seja, carinho. Os cães também.

Desta vez Lacan ficou ansioso. Mesmo brincando, mas menos que o normal, comendo bastante como sempre faz, [já sugeriram regime]. Ficou mais tempo próximo a porta de entrada e menos a meu lado. Sentia falta. Mas, o que me chamou mesmo a atenção foi o modo de fazer suas necessidades. Tem um jornal que, quando não dá para esperar a voltinha na rua, que acontece por duas vezes ao dia, usa como banheiro.

Há algum tempo, em outra saída da Ana tinha urinado no computador. Obvio que colocamos uma capa. Desta vez além de uma urinada no computador, urinou no guarda roupas da Ana, no pufe, também dela esticar as pernas para ver a TV e deu uma pequena defecada em baixo da cadeira que ela janta.

Enquanto limpava, por costume de profissão comecei associar: Toda esta atitude não habitual estava apontando os locais que sua dona ficava. Associado a sua conduta, ele estava falando que sentia falta de sua dona, ou mais, estava usando um elemento mágico o único possível em suas limitações do cão, para, por meio dos excrementos, trazerem sua dona de volta.

É interessante notar que o humano também usa excrementos em suas manifestações, mais para mostrar repúdio ou vitória, como no caso dos soldados americanos urinando sobre os cadáveres. Este comportamento do Lacan me induz seriamente a pensar que o componente mágico dos humanos existe em outros seres. É para ser estudado com mais controle acadêmico.

Observação: Não dou castigo a animais.  

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