segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O PAR DE ALIANÇAS.



Josualdo caminhava rápido no Metro Tatuapé. Tinha de pagar a conta de luz que vencia naquele dia senão teria multa. Não pagava nunca com atraso, aprendera a fazer economia.

Conforme andava no meio da multidão do Metro alguma coisa bateu-lhe na perna. Era um pequeno embrulho de presente. Foi pegar. Um senhor mais velho, de quarenta e poucos anos, de terno e gravata tentou alcançar o pacote simultaneamente.

- É do senhor? Perguntou Josualdo.

- Não. Respondeu o senhor e, olhando para os lados, como que procurando alguém continuou.

-Acho que perderam. Não vão notar tão fácil nessa pressa que todos andam. Continuou

-Vemos abrir?

Josualdo hesitou um pouco, não gostava de tocar no que não lhe pertencia, por fim concordou.

Era um par de alianças. O outro transeunte falou:

- Duas alianças. Tem que ficar juntas, mas achamos ao mesmo tempo. Vamos dividir ou você paga minha parte? Não faço questão.

Josualdo que usava um anel de compromisso da loja de 1,99 ficou pensativo. Tinha varias vezes prometido a Marli uma aliança da verdade e o casamento. O dinheiro nunca dava. Era uma boa chance. Afinal ele era esperto. – Vou levar estas alianças por quase nada. Pensou.

Falou:- Fico; quanto o Senhor quer?

- Por trezentos eu fecho.

- É muito.

- Um par de alianças custa mil.

- Dou cento e cinqüenta. Era o dinheiro que tinha para pagar a luz. Mas a causa valia. Pegaria uma aliança de mil, agradaria Marli que vivia falando até os cotovelos que ele não resolvia a situação.

O homem concordou. Deu o dinheiro e levou as alianças.

Naquela tarde trabalhou agitado, coisa que não era de seu feitio. Tinha começado a trabalhar de faxineiro na tecelagem, logo que chegou do sertão, divisa de Minas com a Bahia. O primo tinha lhe arrumado o emprego. Pegou confiança de todo mundo, foi progredindo até que lhe pagaram a carteira de motorista e deram a Kombi para fazer os pequenos serviços nas redondezas. Deu para comprar uma casa da COHAB e logo depois Marli foi morar com ele. Engravidou em menos de um mês. O Robert, nome que ela escolheu está com três anos. Já tem quase tudo na casa. Sempre a prestação. Só faltava a aliança e o cartório. Agora tinha a aliança...

Cinco horas da tarde. Guardou a Kombi, após tirar o pó como de costume. Pegou o Metro até Artur Alvim. O Metro como de costume lotado. Pegou o ônibus que ia até perto de São Miguel onde embarcou desta vez na Van e após duas horas chegou em casa.

Marli, como de costume batia papo na vizinhança enquanto olhava Robert. Logo veio.

Josualdo foi logo dando a aliança.

-Olha o que te comprei?

Marli abriu o pequeno embrulho, e começou olhar. Era seu costume. Sempre observadora e pouco efusiva com presentes.  Josualdo já sabia o modo da mulher. –No fim ela sempre gosta, pensava. Quando Marli falou.

-Isto é lixo! Você não sabe separar arame de ouro?

Ele realmente não sabia. Pensou:- O cara me enganou!

Foi jantar a sopa rala que sempre comia, enquanto pensava onde arrumar dinheiro para pagar a conta e, com multa.



Tony-poeta pensamentos

10/01/2012

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