terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A GAZE







                                          A GAZE







Final dos anos 50 Januario Magalhães começava a trabalhar. Tinha se formado em Medicina no Rio e o Coronel Adauto lhe convidara. Na pequena e promissora cidade. Ali já clinicavam 20 médicos e a Santa Casa estava reformando o Centro Cirúrgico, abrindo mais uma nova sala de cirurgia. Agora seriam três mesas de operação. Era um lugar promissor.

Dr. Januario, com interferência do coronel tinha alugado uma casa, onde ele a esposa poderiam se acomodar nos fundos, até com certo luxo e, na frente montou o consultório com uma sala de consultas, uma de curativos, gesso e mais o que aparecesse.

Ainda aguardava o telefone que seu benfeitor estava providenciando na telefônica. Já tinha uma secretária, uma moça bonitinha, filha do capataz do coronel que tinha feito até o ginásio e tinha boa caligrafia, Estava tudo em ordem, era esperar os clientes e aumentar a família; pois Lourdes sua esposa não via à hora de ter seu filho.

O novo médico estava satisfeito, tinha sido bem aceito com os novos colegas, a medicina era muito fechada e se não aceito podia ir embora. Seu consultório tinha paciente, a Santa Casa lhe dava suporte para internações e cirurgias. Entre os seus clientes um estava dando trabalho. Era a Marília. Moça bonita, aparentada do Coronel, filha do Sr. Salomão rico fazendeiro de café.

Esta jovem tinha estudado em São Paulo, em Colégio de Freiras, ficara na casa de seus tios em Higienópolis e com eles já tinha ido até Paris, estava agora no interior e revoltada.

Marília tinha ido fazer o Circuito das Águas e contraído uma apendicite. Foi lá mesmo operada, ou por estar adiantada a doença ou pelo drama que a mesma costuma fazer. Voltou para casa ainda com pontos, e o corte não tinha meios de cicatrizar. Dr. Januario usou todos os recursos da época, RX, hemograma, exame de urina. Não tinha nada. Na verdade não conseguia examinar a moça direito, cada vez que chegava perto do corte ela tinha um estrimilique e não deixava tocar.

O doutor conversou na sala dos médicos e os colegas sugeriram operar novamente e ver a causa daquela secreção continua e o corte que não fechava. Tentou mais um pouco e por fim cedeu. Marcou a cirurgia.

Dia marcado passou na Sala dos Médicos. O costume local era o médico disponível na hora auxiliar o colega, independente de indigente ou particular. Dr. Simas estava folgado. Este médico político, amigo do Getulio, tinha grande influencia e experiência, porém, sempre tem um porém, era agitado e inquieto. O Dr. se dispôs, foram ao centro cirúrgico. Dr. Dirceu, anestesista já tinha feito o pré-anestésico e Marília estava dormindo vigiada pela Cida, que fazia a função da enfermagem.

Dr. Januário foi lavar as mãos, Dr. Simas foi conhecer a doente. Começou a demorar, ia atrasar a cirurgia. O anestesista ficou ansioso, tinha mais uma operação marcada, Dr. Januario já estava terminando a assepsia e Dr. Silas não voltava. Não era hábito um medico apressar ou outro, principalmente alguém com tanto destaque. Por fim Dr. Dirceu olhou para dentro do centro cirúrgico e falou;

-Dr. Silas nós estamos atrasados.

- Calma, calma. Só estava olhando a moça, agora que ela esta quietinha.

Peguei uma pinça, cutuquei, vi um pontinho branco e puxei. Tinha uma gaze esquecida debaixo da pele. Já a retirei. Era o problema. Não precisou nem dos campos. Está tudo certo. A Cida já está fazendo o curativo. Pode por a outra operação, que a mocinha vai para casa assim que acordar.

E saiu do Centro Cirúrgico, na sua costumeira agitação.





14/02/2012

tony-poeta pensamentos

Alguns nomes estão trocados, outros não me falaram

Não sou tão velho.










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