quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O ELETROENCEFALOGRAMA







                 O ELETROENCEFALOGRAMA





Ricardo invadiu meu consultório, bêbado pedia um eletroencefalograma. A secretária assustada veio me comunicar: - Doutor este senhor que diz que tem INPS quer um exame e está totalmente embriagado. Não trouxe guia de consulta.

O consultório particular era habitualmente cheio. Tinha conseguido credenciamento para atender a Previdência na clinica particular. Entre consultas e retornos sempre aguardavam vinte ou mais doentes.  Lembro que o ganho que proporcionava era suficiente apenas para viver bem, não dava fortuna.

Fui conversar com o paciente na sala de espera, não o conhecia. Era um homem de aproximadamente cinqüenta anos, vestido adequadamente, uma pessoa comum. Estava agitado, disse que vinham falando mal dele há muito tempo e queria um eletro da cabeça. Afinal era do INPS, frisou de novo.

Receoso pedi-lhe que entrasse na sala de consultas. Tentei conversar. Não havia jeito, queria, porque queria o tal exame.

O procedimento não era rotineiro, quem fazia era o Dr. Mazzafera em seu consultório, precisava de guia, autorização e toda burocracia. Expliquei, em vão.

Tentando resolver pensei: - Da Rua Armando Salles, onde era o consultório até a Av. Rio Claro onde ficava o barracão do INPS era uma boa caminhada. Num dia de calor como aquele, por certo chegará mais sóbrio e em condições de conversar. O Durval funcionário do atendimento é bastante atencioso e experiente. Fiz a guia e continuei meu trabalho. Ele saiu contente com o papel na mão.

No Posto não tinha jeito. O Durval não o convenceu que o exame tinha de esperar. Dr. Adib Haber, da chefia do atendimento não conseguiu convencê-lo, nem examiná-lo. O

Paciente continuava agitado. Chamou Dr. Simão Andrade Ribeiro, chefe da Agência para tentar resolver o impasse. Experiente, com seu jeito político o médico propôs: - Não tenho o aparelho da cabeça, mas o do coração dá para fazer agora. O Senhor Vai até aquela sala, deita quieto sem se mexer, que a mocinha vai por os cabos e fazer o exame.

Ricardo sorriu. Aceitou a troca.

Fazendo o exame, a técnica notou o traçado alterado, pensou:- É o álcool. Mas por precaução chamou Dr. Luiz Quijada o cardiologista responsável.

O homem foi imediatamente internado. Estava evoluindo um grande infarto do miocárdio, que após três dias o levou a óbito.

Na medicina acontecem muitas coisas inexplicáveis.





29/02/12

tony-poeta pensamentos


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