quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O PÁRA RAIOS [crônica]






                                           O PARA RAIOS





Marcão chegou animado. Ia vender pára-raios. Estávamos no Bar Marcassa quando alegremente nos comunicou que tinha ido a São Paulo e conseguido a representação. Marília na época tinha poucos prédios e a indústria era incipiente. Quase não existia proteção a tempestades. Apesar das notícias só referirem casos de acidentes na Zona Rural, a cidade estava realmente desprotegida.

O Bar Marcassa na época era onde se reuniam os jovens da cidade após o trabalho e o estudo. Tinha uma visão estratégica, era a esquina diagonal ao Colégio das Irmãs. Neste horário saiam a normalistas, que eram olhadas, olhadas, e só olhadas. Dentro do bar só homens, o dono, o balconista, o vendedor de bilhetes que fugira da revolução Espanhola, e trazia a letra da Internacional no bolso, o engraxate. Era um observatório masculino. As mesas eram animadas e o papo prolongado.

A nova atividade de Marcão animou a mesa. Entre cervejas constatamos o perigo da cidade sem pára-raios, e Drigão fez uma colocação polemica:

-Meu professor falou que o raio sai do chão. Prato cheio para uma infrutífera discussão. Afinal o raio cai ou sobe. Hora depois, sem nenhuma solução fomos jantar cada um em sua casa.

Dia seguinte: pasta no braço Marcão correu a cidade. Olhou as casas e foi ao jornal tentando colocar um artigo sobre raios e prevenção. Chegou à conclusão que sem pagar um anúncio não teria divulgação. Começou a correr as lojas de matérias para construção para ver se colocava o produto.

Continuávamos a nos encontrar no Marcassa e o impasse persistia. Não tínhamos chegado à conclusão se o raio sobe ou desce e Marcão cada vez mais desanimado, sem nenhuma venda. Conversamos, conversamos e chegamos à conclusão que o mais importante no momento era ir ao Batalhão de Bombeiros. Lá poderia haver uma orientação.

Cedo foi nosso vendedor ao quartel. Os bombeiros são muito receptivos e gentis. Foi recebido com cafezinho, e logo mais chegou o Capitão Souza.

Conversaram longamente, Souza começou a fazer perguntas interessado. Empolgado, ansioso por uma solução, Marcão explicou que dois tipos de pára-raios são indicados para a cidade. O Franklin de três ferros nas pontas, ideal para residências e de pouca abrangência e, o orgulho da linha que protegia um quarteirão todo. Foi mostrado a área e modo de cobertura de seus aparelhos. Tudo sob olhar atento do Capitão.

Meia hora de conversa, finalmente o Capitão se manifestou:

- Gostei. Vou pedir para a Superintendência fazer uma licitação e colocar um aparelho no Batalhão. Não temos pára-raios.

À tarde Marcão tinha desistido de vender pára-raios; e não queria saber se o raio desce ou sobe.





tony-poeta pensamentos

01/02/2012








Nenhum comentário:

Postar um comentário