sábado, 25 de fevereiro de 2012

O SENSUAL E O SEXUAL







                                     O SENSUAL E O SEXUAL.







Antes eu só ouvia música no carro, Na correria de um serviço a outro, sempre distantes, sintonizava a radio numa FM e, me inteirava da musicalidade atual e passada.

Não havia autor, nem nada, apenas o nome do cantor, nem sempre destacado. Mudei de hábitos, e graças à internet comecei a me aproximar dos cantores, suas vozes e seus clipes. Melhorou meu entrosamento e conhecimento artístico. Piorou muito meu conceito de apresentação de arte.

Hoje, ouvia Tânia Mara numa postagem que inclusive compartilhei. A música romântica Se Quiser é boa, mas o clipe no Youtube tocou minha sensibilidade. Eram fotos de expressões faciais, onde a artista não se demonstrava à vontade. Pensei: O ponto sensível de cantora é a voz. Qual a razão de demonstrar rosto?

Somos a civilização da visão, já demonstrado pelos filósofos. A habilidade da voz, da escrita ou do som, não se destaca sem o colorido da imagem. Não que esta seja feia, o que realmente não é, mas compete. O talento fica ocultado pelas cores e movimentos e perde todo destaque e, como no caso citado, pode não ter nada a ver.

Isto me leva a uma observação entre sensualidade e sexualidade. Estamos na era do sexual. Não podemos dizer se fases, como a atual são corretas ou não, fazem parte da evolução da sociedade.

O que podemos fazer, sem criticar é pontuar o fenômeno.

Os shows de artistas modernos, que nos chegam, têm coreografia gestual brusca e agressiva. Tanto atores masculinos, como femininos fazem gestos grosseiros; até pouco tempo considerados pornográficos, na sua representação no palco. Ainda não chegamos a ponto de homens despidos, mas o sexo feminino cada vez mais se desnuda e, a pouca roupa que cobre suas partes intimas muitas vezes parece que foi confeccionada por algum discípulo do costureiro do Chacrinha, com tons berrantes, não combinados e espalhafatoso.

A música em si, na maioria das vezes se resume numa repetição de um único refrão, que acompanha a agressividade dos gestos e movimentos. Vamos comparar esta sexualidade visual, que é a representação da sociedade moderna, com quarenta anos passados, na época de meus vinte anos.

Os meios de imagem na época eram poucos e de qualidade bem inferior. A sociedade se comunicava pessoalmente na vizinhança, nos bares, e no trabalho. O relacionamento em si era pessoal, não visual como é hoje, onde nos isolamos em nosso domicilio. Falamos pelo celular ou pela net e nossa conversa é breve e telegráfica.

Este fator já é uma quebra importante da sensualidade. Mesmo que a pessoa seja sensual no celular ou no site de relacionamento, não há a transmissão pessoal que é básica numa relação. O amor virtual é apenas uma fantasia a dois, na impossibilidade de um contato entre ambas as partes; e mais, são partes que sentem falta do contato ante o mundo não presencial que os rodeia e, faz, muitas vezes, além mar, um amor, no caso romântico sim. Completamente avesso a tecnologia que utilizam.

Antes da invasão de imagem as pessoas eram discretas no vestir. Puritanismo? Não!

É exatamente aí que começa a excitação. O oculto excita. Tinha um carro na época, se não me engano a DKW, que a porta do carona abria ao contrário, isto fazia que as moças, que na época usavam preferencialmente vestidos, deixassem expostas as pernas, raramente as calcinhas. Era a excitação dos rapazes e a precaução das donzelas. Esta visão de segundos despertava a imaginação, a ponto de ser comentário na roda de amigos. Era realmente excitante. Mas dirão: a excitação do homem nada tem a ver com a das mulheres. Discordo. É um jogo.

A psicanálise descreve como um jogo de véus. A mulher como desejo oculto se reveste de véus, que os vai desnudando aos poucos [principio do strip-tease]. De inicio as partes descobertas do corpo chamam a atenção do homem, que forma uma imagem mental de um todo desejado. Esta excitação, captada pela mulher a faz desejante e abre-se outro véu. Nova imaginação, nova excitação do homem e retorno da mulher. Portanto um jogo sensual altamente excitante.

Este jogo era tão conhecido, que algumas nações árabes por cultura familiar, o homem honra a descendência e o adultério colocaria em duvida a família. Cobrem a mulher de modo total, inclusive colocando um véu nos olhos, para que não se inicie a jogo excitatório com um rival. Há o absurdo, combatido atualmente, de mutilação do clitóris pelo mesmo mecanismo, onde se supõe que a mulher mutilada não tenha desejos e não comece o jogo. Convém lembrar que a estrutura familiar é à base da cultura.

Tanto nas mulheres de burca com nas mutiladas há consenso social do proceder e tanto homens como mulheres concordam. A discordância é que gera a mudança social, sempre é tumultuosa.

Continuando na mesma época, onde o tabu da virgindade era rigoroso, nas casas de prostituição havia o jogo de véus. Mais atenuado é claro. O homem entrava na casa, se engraçava com determinada mulher, sentava. As mulheres eram devidamente vestidas, ou com roupa de festa nas casas mais caras, ou com roupas comuns nas casas mais populares. Era feita a sala. Consistia de o homem tomar uísque, era meio obrigatório; a mulher acompanhava, geralmente era guaraná com gelo, mas o homem fingia que não sabia. Ali se conversava de tudo. A mulher fazia até papel de conselheira e após algum tempo, combinava-se o preço e iam para o quarto para completar o objetivo.

Convém lembrar que os autores que se liam e a educação da família era herdeira do romantismo e, assim se comportava. A mudança de hoje é referente à idade pós-moderna, que como já frisei é a idade da visão. Tudo é visão. Este jogo de véus foi modificado, mas não extinto. Com certeza criará nova forma, imprevisível. Mas não creio no seu desaparecimento. Seria a destruição total da família e suas imprevisíveis conseqüências.

Por enquanto aguardemos e façamos nossa torcida, para que aquele que tem o dom da voz se adapte as condições atuais.





25/02/12

tony-poeta pensamentos






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