segunda-feira, 5 de março de 2012

as duas primeiras viagens - Primeira Viagem - As primeiras impressões.


AS DUAS PRIMEIRAS VIAGENS





PRIMEIRA VIAGEM – AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES.



Passado o vestibular para medicina voltei para meu emprego. Sempre trabalhara e estudara. Trabalhava na Semp, no Rio Bonito; para lá de Santo Amaro em São Paulo. Era correspondente de vendas. Gostava do emprego. A política da firma, objetivando vendas, era escrever longas cartas para o pessoal do interior e de outros estados, tentando tocar a vaidade do comprador pelas palavras, para colocar o produto.  

Não tinha sido chamado na primeira chamada; já estava programando o ano. Não se divulgava lista de excedentes.

Certo dia, tinha acabado de sentar em minha Olivetti, minha mãe telefonou. Fui chamado em Marília. Saí imediatamente, peguei alguma roupa e fui à rodoviária. Durante a semana conseguiam-se ônibus mais facilmente. Era cedo, daria para chegar a tempo.

Passando Bauru o Prata quebrou. Iria demorar um carro reserva. Peguei carona em um caminhão. Não teria paciência de esperar.

Era um senhor de quase sessenta anos, veio me contando que Marília era a maior frota de caminhões do interior, explicando como era a vida da cidade, sua política e daí por diante. Foi uma viagem agradável, apesar do sol que batia de cara em nosso rosto e, de minha pressa. Estava muito quente.

Parei direto na Faculdade, confirmei o interesse da vaga com a Lourdes. Estava realmente sob forte tensão, além do desejo de ser Médico, tinha sido pego de surpresa. Não daria para fazer a matricula no dia, o banco já estava fechado. Peguei um taxi até o Grande Hotel, onde me hospedara no vestibular, para esperar o dia seguinte, pagar a matricula, ir à faculdade e tomar o trote.

Jantei no Atlântico. Para passar o tempo resolvi ir ao cinema. Como nada conhecia, o garçom informou que logo em a frente, na Sampaio Vidal mesmo havia um. Fui até o cine Marília.

Era dia de filme japonês. Nunca havia assistido nenhum. Era o único brasileiro ao redor. Mesmo assim resolvi entrar para controle da ansiedade, que já era imensa.

O filme era do Samurai Cego. Pensei:- para passar o tempo vale tudo.

Como não conhecesse nada de Samurai, a paisagem e os costumes começaram me interessar. A história fantástica de um cego, ouvindo barulho de uma cobra dando bote de cima de uma arvore e, sentado, num movimento rápido pegou a espada embaionetada no cajado com que andava, e cortou a cobra em longitudinal. Impressionou-me a criatividade do diretor. Gostei tanto do filme que assisti todos que passaram posteriormente.

Na saída sentei para tomar uma cerveja no Cine Bar e o Sr. Rubens, vendo-me  solitário veio conversar. Naquele horário já não tinha quase ninguém e o dono, que me tornei amigo posteriormente, queria desculpa para tomar cerveja, sem a Lenira ficar brava.

Falei do filme e do fato de ter um dia só para filmes nipônicos. Contou-me então da Tradição do Cine Marília, de seu festival de cinema, do Premio Curumim e todas as glórias que a casa trazia consigo. Foi muito interessante e com certeza melhorou muito o olhar sobre a cidade.

Dia seguinte fiz a matricula e o trote foi só o corte do cabelo. Já estava em aula. Fui direto para sala de anatomia. Fui apresentado ao cadáver que trabalharia o ano todo. Era o Perigoso, um ex-jagunço que morrera idoso na mendicância. Triste história, digna de filme.

Estava pela primeira vez na vida tocando um defunto e ainda fizeram-me o favor de me contarem sua história. Tive medo e outros sentimentos que não consegui identificar. Éramos quatro alunos por corpo. Lembro-me até hoje onde era minha mesa. As outras, naquele dia não tive coragem de olhar.

Veio um recado: o trote seria a noite no bar da Prefeitura. Pelas três horas. Quando sai fui rapar careca. A Barbearia era do Piola, que vendo um calouro da medicina contou que era doador, que mantinha o cadastro dos doadores da cidade, que sempre arrumava o sangue necessário. Realmente vim saber posteriormente de sua grande Benemerência.

À noite fui conhecer e levar o trote no Bar da Prefeitura. Achei-o muito interessante, era uma estrutura de madeira sobre o espelho d’água sob a parte coberta do prédio. Muitas mesas ocupavam o local e, bem movimentadas. Muitas meninas o freqüentavam. Para quem vinha de São Paulo era fantástico, não havia estes pontos de encontro, geralmente eram só rapazes, sem nenhuma mulher.

Ninguém estava muito interessado em um trote solitário. Mandaram-me fazer um discurso e, fomos tomar cerveja.

No outro dia à tarde iria para São Paulo, já era sexta feira.



tony-poeta pensamentos

06/03/12

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