terça-feira, 13 de março de 2012

DONA MARIINHA


DONA MARIINHA



Bastava abrir uma janela e dava-se de cara com Dona Mariinha. Eram três vizinhos, Pai e duas filhas. Estas casaram e Sr. Salvador comprou o terreno de fundos, que dava frente à outra rua e ali vivia a família Santos. Ao meio a fofoqueira Dona Mariinha.

Esta senhora de setenta e cinco anos, viúva, pensionista ficava o dia todo em casa, não saia; dizia ter dor nas pernas e costas. Fazia alguma comida, pouco se sentia o cheiro, lavava duas ou três peças de roupa, varria por cima o jardim e o corredor e... Olhava pelas janelas. Tinha dois filhos adultos que raramente eram vistos. Entravam e saiam de casa sem falar com ninguém, provavelmente nem com a mãe.

Como muito manhosa, não tinha amigos, ninguém a visitava.

A família Santos, que cercava a sua casa, não lhe via com bons olhos, mal falando bom dia ou boa tarde, quando se deparava de frente nas janelas.

Alem de vigiar a Família Santos, esta senhora também vigiava o ponto de ônibus em frente à casa. Via que entrava no ônibus, quem descia, quem conversava com quem, as brigas de namorados. Enfim, olhava tudo que acontecia.

Certa noite deu aquela briga de família na casa dos Santos. Da. Leonor, mulher de Salvador comprou uma maquina fotográfica para Rafael seu neto, filho da Marli, sua filha da casa a direita. Acontece que Rafael tinha quebrado com a bola a vidraça de Meire, sua outra filha, da casa a esquerda e o avô o tinha posto de castigo.

Como acontece em toda família, seu primo Ricardo ficou com ciúme e sentiu-se injustiçado: - Como ele quebra a vidraça e ganha presentes, e eu que fiquei quieto, não? Meire tomou as dores e foi falar com a mãe, Sr Salvador lhe deu razão, Marli tomou defesa da mãe que começou a chorar. Fabio e Gustavo os dois genros se propuseram a comprar uma máquina para Ricardo e resolver o problema.

Na verdade aumentaram à briga. As esposas começaram a acusá-los de omissos, folgados, que queriam resolver os problemas dos filhos dando presentes e assim por diante. Foi às três famílias dormir de cabeça quente, já tarde.

Pela manhã cada um abriu sua janela e deu de cara com dona Mariinha. Saíram Fabio, Gustavo e Marli que iam trabalhar de ônibus, sempre estavam juntos pela manhã. Continuaram resolvendo o problema da máquina no ponto de ônibus. Da Mariinha olhava.

À noite, todos sentaram. Sr. Salvador falou: Temos que dar um jeito nesta velha; eu já sei como...

-Ela ficou ouvindo nossa conversa no ponto de ônibus, falou Marli...

- Não agüento mais esta vigilância retrucou Gustavo...

Todos estavam de acordo, tinha que ser dado um jeito

O Patriarca falou, vamos levantar nossos muros acima da janela e mudar o ponto de ônibus mais para baixo.

Mas como? Perguntou Fabio.

-Meu primo Aristides trabalha no escritório da empresa, vai ser fácil, disse com um sorriso de superioridade, típico de seu modo de ser, o chefe do clã.

-Mas não tenho dinheiro para fazer o muro agora, deixa o meu lado sem. Completou Fabio diminuído.

-Deixo, não. Falou Salvador. Te empresto, depois você me paga.

Dia seguinte começou a reforma. Levantaram o muro em uma semana e, neste tempo o ponto de ônibus mudou de lugar.

Daí em diante, raramente se via Dona Mariinha, ou andando como fantasma com a vassoura no corredor, ou olhando para o nada frente a casa.

Meire, três meses depois, chega triste em casa. Trabalhava no Hospital e o lar era seu descanso, raramente trazia problemas.

Gustavo estranhou, falou:- que houve? Você está triste.

-Dona Mariinha morreu...

Aquela velha fofoqueira? Coitada! O que houve?

A família estava reunida, como fazia todo dia à tarde, Meire explicou:

-Chegou quietinha, encolhidinha, sem falar nada, deu três suspiros e... morreu.

-Mas de que morreu? Perguntaram quase ao mesmo tempo...

-Meire já chorava, falou: Dr Caio disse que foi solidão.





13/03/12

tony-poeta pensamentos




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