quinta-feira, 8 de março de 2012

A HIPPIE


A HIPPIE



Márcia entrou tímida no consultório. O andar já denotava que não estava nada à vontade, vestia uma calça jeans e uma camiseta, como todas as moças de sua idade. Tinha dezoito anos. A enfermeira trouxe o prontuário, falei:- bom dia e a resposta tímida quase não deu para ouvir.

Era nove horas da manhã, uma das primeiras consultas do dia. Não a conhecia, conferi os dados e perguntei-lhe, como de hábito qual sua queixa.

Timidamente falou que estava com falta de ar. Perguntei-lhe se fumava, a resposta foi negativa. Continuei a consulta e a dificuldade de diálogo era cada vez mais nítida.

Não soube me explicar se chiava quando respirava e nem caracterizar os seus sintomas, bem como falar de doenças anteriores, o que atribuía a não presença da mãe, - Que sabia tudo; nas suas próprias palavras.

Passei então para parte de exame físico, já que não obtinha dados, para formar um raciocínio satisfatório. Pedi que tirasse a blusa. Surpreendentemente se recusou, demonstrando real vergonha.

Interfonei para a enfermeira. Prontamente atendeu. Expliquei que a moça estava envergonhada de despir-se frente a um homem, que era para a mesma tirar a blusa, frisei que não era toda roupa, e cobri-la com o roupão apropriado, então faria o exame.

Quinze minutos depois a enfermeira abra a porta e diz:- Não tem jeito doutor, ela não tira a blusa.

Diante do impasse, pedi um Raio X e um eletrocardiograma, que no retorno teria uma idéia e veria o que fazer. Márcia foi embora.

À noite, estava muito calor, fomos eu e esposa tomar um chope logo após escurecer. A calçada tinha uma pequena brisa que atenuava a temperatura. Sentamos e logo chegaram alguns amigos que nos fizeram companhia. Ficamos batendo papo.

Um grupo de hippies se aproximou, vendiam bugigangas, estas pulseiras e colares de contas, que eles mesmos faziam e que agradam as mulheres, que ficam ávidas olhando.

Uma moça, de saia colorida até o chão tipo cigana, uma blusa apertada destacando os seios tentava vender as mulheres da mesa. Olhei e reconheci. - Você não é a Márcia que passou hoje em consulta?

Ficou pálida, gaguejou alguma coisa e foi embora imediatamente, juntar-se ao excêntrico grupo que a acompanhava.

Não trouxe os exames, e na sei até hoje: se a da manhã, ou a da noite é a verdadeira.





08/03/12

tony-poeta pensamentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário