sábado, 31 de março de 2012

o sitio e a lagarta


O SITIO E A LAGARTA





Quando meus filhos eram pequenos, Ana lecionava na Fazenda do Estado. Como morássemos no Jardim Maria Martha, era só pegar a estrada a alguns quarteirões e dirigir numa reta. Não era complicado. Tínhamos Da. Maria, uma senhora, que já havia criado seus filhos, que olhava nossos três moleques. O que não era fácil com córrego próximo, barro, carrinho de rolimã e toda liberdade que tínhamos combinado lhes proporcionar.

Ali passava padeiro e verdureiro na porta. O Luiz. Este trazia frutas e verduras, e quando não estávamos cobrava depois e entregava para Dona Maria. O curioso é que ele tinha um dia que também vendia frutas e verduras na Fazenda do Estado. Determinado dia da semana, pegava sua Kombi e para lá se dirigia.

Quando Ana me contou, achei absurdo. Perguntei se vendia bem, afinal eram pequenas propriedades. Mas, o retorno semanal nos fez acreditar que sim. Caso contrario não voltaria.

A Fazenda do Estado foi um dos pioneiros projetos de reforma agrária no Estado de São Paulo. Uma Fazenda foi dividida em lotes, providenciado moradias e assentada uma família em cada uma delas. Acontece que o financiamento agrícola era insuficiente e pegar dinheiro nos bancos, sem seguro rural, o que ninguém nem imaginava na época, isto a quarenta anos, era temerário. Dois anos sem safra e a propriedade já era do banco. Grande parte do êxodo rural na época deveu-se a isto.

Portanto, quando Ana lá lecionava uma boa parte dos sítios tinha se transformado em sitio de lazer, sem produção. Havia os que ainda resistiam, com dificuldades.

Pensamos que as verduras eram consumidas nos sítios de recreio, mas os alunos posteriormente informaram que todos, indistintamente compravam verduras do Luiz.

Como verduras pertencem à tradição européia, sendo sua origem no degelo dos Alpes, onde os antigos habitantes, após um inverno rigoroso com poucos víveres, começaram a

consumir as primeiras plantas que surgia no degelo, o que originou as verduras que temos hoje. Acreditei que em se tratando de população local o habito não estava ainda bem sedimentado, já que não temos inverno, e a verdura não era prioridade.

Alguns dias atrás, já no litoral, seiscentos quilômetros de distância de Marília, atendo uma jovem senhora, vinte e poucos anos, acompanhada de seu filhinho, não tinha com quem deixá-lo, e relatou-me intestino preso.

Faz parte do tratamento uma dieta de frutas e verduras. Indaguei onde morava. Contou-me que era de Minas e havia se casado com um sitiante da Serra do Guararu. Esta serra, hoje área de proteção, possuía uma pequena população de agricultores, com pequenas propriedades. Não foram desalojados e as propriedades mantidas, desde que não aumentassem a área. Era numa destas que a moça morava. Imaginei que seria fácil orientar a dieta. Ledo engano.

Ao me referir as verduras; informou-me que em Minas até plantava. Mas as verduras de São Paulo têm bicho e que ela não iria alimentar sua família deste modo.

Falei-lhe que toda verdura sadia tem que ter pequenos bichinhos, caso contrario se estará comendo adubo e inseticida. Que é só lavar e pronto.

Mas ela permaneceu arredia, disse que logo que chegou, plantou. Mas tinha muita larva. E que a televisão falou que não era bom.

As propagandas tem realmente exagerado. Numa um garoto que jogava bola, pegou uma única fruta na fruteira e foi para o Hospital porque não tinha usado o sabonete X. E outras mais que estão veiculadas. Tentei convencê-la, mas a TV tem credibilidade. Encaminhei-a para a nutricionista para ver se esta tem mais sorte que eu.

É lógico que os dois fatos são independentes, mas se entrelaçam em um ponto. Um hábito leva gerações para se consolidar em uma população, e qualquer obstáculo é motivo par que seja deixado de lado ou modificado. Tanto a falta de costume de plantio, que é o primeiro caso, como a propaganda mal formulada, no segundo acarretam desvios, muitas vezes definitivos.

Espero que as agências de propaganda revejam a agressividade de suas chamadas, pois não há Kombis e Luizes suficientes para atender toda zona rural, com verduras isentas de insetos.





31/03/12

www.tony-poeta.blogspot.com


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