quinta-feira, 1 de março de 2012

O TREM DE MARILIA







                                       O TREM DE MARILIA





Sempre gostei de viajar de trem. Esta foi a ultima viagem antes de sua total desativação para o interior de São Paulo.

Quando aconteciam cursos de especialização em São Paulo, era no trem que andava. Alugava uma cabine e chegava descansado ao destino. Considerava um conforto.

Desta feita teríamos eu e Ana, minha esposa, compromissos na Capital. Programei como era de praxe alguém para assistir meus pacientes, normalmente Dr. Érico Cardeal, comprei a cabine. Estava resolvida a viagem. Em casa ainda foi argumentado que o trem estava meio abandonado, que poderia ter contratempos e uma série de dúvidas, as quais prontamente contra argumentei:

- Vou sempre. Tem café da manhã, a omelete é ótima, o que não era mentira e Dr. Nathanael Melo costuma ir nesse trem, vai fazer análise.

Ana conhecia o Nathanael, era falador, divertido e de uma inteligência fora da média, uma certeza de um bom papo. Já escutara meus elogios a comida, ainda perguntou como era a cabine.

Expliquei que esta era pequena possuía um beliche à direita, um vaso sanitário em frente e um espelho a esquerda. Apesar de minúscula era o suficiente para um pernoite.

Consegui vencer as resistências. Estava programada a viagem, a cerveja com o Natanael e a omelete. Tudo certo.

Dia da viagem fomos a Estação, Natanael estava lá. Não tínhamos jantado, o faríamos no trem. Ficamos conversando até chegar o trem de Panorama. Entramos, guardamos as malas na cabine e, não tinha o vagão restaurante. Informaram que tinha quebrado, e o reserva estava inativado fazia tempo.

Mulher brava é difícil, inferniza mesmo. O Natanael começou a fazer seu discurso indignado e eu, tentando por panos quentes. Fomos sentar na primeira classe até a hora de dormir, esperando passar o rapaz que vendia refrigerantes, cerveja e sanduíches.

O rapaz não passava, Natanael reclamou, conhecia todo mundo. Logo depois apareceu. Não tinha a cerveja, ficara no vagão quebrado. O refrigerante estava quente, e o sanduíche de pão borrachento com uma mortadela de péssima qualidade, que para satisfazer o médico viajante habitual pegaram numa estação de parada. A fome era grande, acabamos comendo.

Fomos dormir. 

Sempre dormi na cama de baixo em minhas viagens. Apesar da cama superior do beliche ser baixa, nunca a usei. Como casado há pouco tempo, fazendo a gentileza masculina e diante da fascies de desacordo da esposa achei melhor ser cavalheiro.

Tenho barreira ao equilíbrio, de bicicleta desisti de andar, pois a mesma insistia de oscilar continuamente da direita para esquerda e vice versa. Em cima o trem andando era igual. Achava que ia cair, tentei, tentei, até que resolvi dormir na cama de baixo junto com a Ana, mais irritada ainda.

Não cabiam os dois. Com um irônico:- Machão. Foi para a cama superior e pude dormir.

Chegamos famintos e cansados a casa de meus pais.

Algum tempo depois a linha foi desativada por desinteresse dos passageiros. Acho que não é bem assim.



01/03/12

tony-poeta pensamentos






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