sexta-feira, 2 de março de 2012

OS POTES crônica








                                                 OS POTES





Encontrei Dr. Eládio Pessoa de Andrade e sua esposa Lourdes na rodoviária. Estava nos primeiros anos de Medicina e comprava a passagem de retorno depois das férias, quando me deparei com ele, Da. Lourdes e um carrinho de bagagens lotado. Estavam voltando de Fortaleza, ambos são cearenses. Cumprimentei meu primeiro professor da faculdade. O primeiro mestre é muito marcante para nós, além de apresentar o curso de Medicina, nos apresenta os cadáveres que iremos trabalhar no primeiro ano e, o mais importante, a Ética que deve ser seguida.

Notei que o carrinho de bagagens era descomunal. Contou que viera de Fortaleza para Congonhas, pegara um taxi e fora para a Rodoviária. Só teria ônibus no dia seguinte.

Percebi a situação, ele a esposa e a bagagem enorme. O local da rodoviária antiga era onde fica hoje a cracolândia. Já era barra pesada. Os Hotéis em volta eram de curta permanência. Com muito custo o convenci a deixar a bagagem no maleiro e ir para minha casa para alimentação e repouso. Assim foi feito.

Dr. Eládio é uma pessoa calma, ponderada e competente. A única vez que soube que ficou mais irritado foi no primeiro ano da faculdade. Contam que ensinava ele sobre liquido sinovial; aquele líquido de lubrificação que dá mobilidade a joelho, cotovelos e outras articulações. Por mais que mostrasse os alunos do grupo em questão, não o conseguiam ver, até que irritado falou com todo sotaque nordestino, - Viste babinha, pois viste sinovia.

Numa classe de paulistas e paulistanos foi o bastante para o apelidarem de Professor Babinha, e ficou pelo menos até onde tive contato.

Em casa sua permanência foi agradável, mas a bagagem ainda me encafifava. O que Dr. Eládio trás de tão importante que não pode despachar, pagando excesso no avião e fazendo tremendo sacrifício na Capital? Não resisti e perguntei.

-Antonio Carlos, me respondeu ele. Tem uma geléia que eu e a Lourdes comemos desde criança, feita nos sítios da região. A gente não a encontra por aqui. Estamos trazendo para o ano todo. Se despachar os vidros quebram.  Na época não havia plástico.

Eu, meus pais que não tinham idéia do volume e o Rubens, meu amigo que sempre estava em casa concordamos, ainda que em dúvida se compensasse tanto sacrifício.

Dia seguinte eu e meu amigo Rubens os levamos a rodoviária, ajudamos acomodar a preciosa carga no ônibus e o casal voltou para Marília.

Não sei o gosto da tal geléia, deve ser muito bom. Dr. Eládio não se desfez de nenhum vidro para a gente experimentar e, o mais importante: devia emagrecer, pois o médico era magro.





02/03/12

tony-poeta pensamentos

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