quinta-feira, 22 de março de 2012

SEGUNDA VIAGEM


SEGUNDA VIAGEM





Peguei o ônibus da manhã. Estava com duas malas e dois livros. Eram meus primeiros livros de Medicina. Meus pais o tinham comprado, pedira por telefone. Na semana já teria a primeira prova de histologia. Não tinha assistido a nenhuma aula. Os livros, na verdade tratados, eram grandes, pesados e caríssimos. Teria de estudar os dois primeiros capítulos. Era um problema. Não tinha nenhuma base.

Nas malas estavam praticamente tudo que tinha. Tirando dois ternos que deixei por falta de espaço. Quem trabalha em São Paulo usa terno. Era a regra.

Sentei na janela e tentei me acomodar, eu e o livro de histologia. No ônibus, uma moça muito gentil, era a Rodomoça, oferecia o travesseiro e o cobertor. Ela serviria bolachas Ailiram no trajeto e cafezinho. Realmente, o livro era incomodo de se ler em um ônibus, pelo peso e volume.

A meu lado viajava uma moça, que acompanhava outras duas, no banco imediatamente atrás, não fixei o nome. Como estudante de medicina chamasse atenção, logo  puxaram papo, ao qual aceitei de bom gosto.

Inicialmente começaram a contar das brincadeiras no Iara. Não sabia o que era a tal brincadeira. Onde andava festa a noite era Baile e mais cedo Matinee. Tiveram que explicar como era. Falaram da freqüência, animação, do clube e suas glórias e freqüência. Como eu estava completamente por fora, resolveram apimentar com o Pé de Veludo, fato recente na cidade. Apesar de não adiantar muito, não tinha habito de acompanhar noticias policiais, o relato ficou interessante. Talvez mais pelo folclore criado, do que pelo fato em si. Contaram:  

O Pé de Veludo era um bom bandido. Roubava mas não fazia mal a ninguém e morava próximo ao Iara, numa casa de dois ou três andares.

A característica dele era roubar, sem fazer nenhum barulho, daí o apelido. Disseram que muitas vezes ele avisava a vitima que iria surrupiá-la e por mais que esta se precavesse era roubada. Contaram que o Dr. Akira Nakadaira, explicaram-me que era um rico cirurgião local, de muito prestigio, obviamente não o conhecia, foi avisado e que ele se protegeu de todo modo, mas à noite, com uma varinha de pesca, a carteira com toda a fortuna que ganhara no seu consultório durante o dia foi surrupiada.

Mas que este ladrão nunca tinha agredido ninguém, só roubava, e sem fazer barulho. Mas, chegou um delegado novo e foi até a casa dele para prendê-lo. Pensei comigo, porque não o prenderam antes? Mas não quis interromper.

E o delegado chegou com todo um batalhão, para efetuar a prisão dele e de seus irmãos, após minha pergunta, informaram que os irmãos também o ajudavam.

E o aparato, na casa próxima do clube das brincadeiras chegou armado até os dentes para prender o ladrão silencioso e seus ajudantes. Foram recebidos à bala.

Com detalhes informaram, que a mesa da sala, era destas mesas cujo pé é um baú. Que o pai ou a mãe do Pé de Veludo, não ficou bem clara esta parte, abriu este baú e, lá tinha armas e munições para um longo tiroteio. Que cada membro da família foi a uma janela da casa e começou o tiroteio. Parecia filme de bang-bang.

Por fim, o delegado e um soldado vieram a falecer; fora os feridos do lado da policia. E no lado dos bandidos, os irmãos também morreram e, ele, o herói, em honra aos irmãos lutou até o fim, sendo o ultimo a morrer.

No final da narrativa, o papo praticamente acabou e, fui ler meu livro para a prova, sem saber até onde chegava à realidade e a fantasia. Depois descobri que 90% viraram folclore popular, em termos parecidos e o tumulo era muito visitado. Quem o visita acredita em histórias parecidas.

Acomodei-me no Hotel; fui muito mal à prova, o que era previsto. Por fim, procurei um grupo para formar a república. Estava em Marília definitivamente.





22/03/12

tony-poeta pensamentos


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