quinta-feira, 5 de abril de 2012

A MOÇA, O CACHORRO E O CABO DE VASSOURA


A MOÇA, O CACHORRO E O CABO DE VASSOURA.





Todo dia, pontualmente, as onze e trinta, vejo do terraço uma moça. Sempre levando seu cão, vira-lata; porte de pequeno para médio, segurando na mão oposta a guia um cabo de vassoura cortado pela metade.

Como sou primata, e a característica dos grandes primatas é observar e tirar conclusões, fiquei realmente intrigado.

Esta moça, quase senhora, tem pelo menos quarenta anos de idade, temos o hábito de considerar moça aquela que pode reproduzir e senhora aquela que já o fez, ou deixou de fazer por algum motivo. A julgar pela aparência, ainda é moça, quase senhora como falei. Veste-se sempre com um tênis com meia, bermuda e camiseta. Como passa todo dia, considero o uniforme de antes do almoço. Portanto tenho um fato a pensar da moça desconhecida. Vamos lá:

Poderia ela trabalhar e ao ir almoçar, levar seu cão a passeio, mesmo no inadequado da hora; que sendo um local tropical, muito quente, não é saudável para o animal.

É lógico que se eu for andar descalço nesta hora queimarei meus pés, será que as patinhas não queimam? Deve ser por isso que ela anda sempre com passos rápidos. E leva o meio cabo de vassoura para espantar outros animais que se aproximem. Estaria explicado.

Pensando mais aprofundadamente, esta moça seria uma neurótica. Sairia do trabalho para almoçar, tiraria o uniforme de trabalho para colocar o de andar com o cachorro, voltaria para casa, tomaria um banho. Lógico estaria suada. Vestiria o uniforme de almoço, e após a refeição colocaria a roupa de trabalho. Uma neurose obsessiva com certeza. Mas, este tipo de neurose, a obsessiva, não a troca de roupas, é mais comum nos homens. Devo estar errado.

Penso então em uma outra hipótese. É uma pessoa solitária. Existem pessoas que vivem em casa cheia de moradores e é isolada e se sente só. Pode ser: assim o almoço alguém faz para ela. Acordaria tarde. Com certeza, não deveria trabalhar, viveria de alguma pensão ou mesada. Ficaria no facebook até de madrugada, levantaria tarde. O cachorro estaria agitado, esperando para fazer suas necessidades. Sairia com o pobre animal no asfalto quente. Usaria só um tipo de roupa: Bermuda e camiseta. É mais fácil para ficar na internet. Claro deveria ser assim. Uma pessoa sem compromissos, vivendo a vida sem preocupações, invejável.

Mas, e o meio cabo de vassoura? Por certo tem medo de cachorros. Pronto, volto para o Freud. É uma neurose fóbica. Esta moça por certo pegou o vira-latinha filhote a mando da psicóloga para tratar sua neurose de cão. A fobia se referia ao falo do pai, como sempre falam. O cãozinho cresceu, não mais teve medo dele. Mas, para sair à rua iria encontrar outros cachorros.

Saiu e encontrou. Teve medo. Resolveu então pegar um cabo de vassoura, cortá-lo ao meio e, cada vez que sair para agradar seu companheirinho, leva este pau como garantia. Provavelmente é o que aconteceu.

Acho que a psicóloga, ao recebê-la de retorno, não gostou muito da solução. Deve ter falado:

-Você cortou sua fobia pela metade. Ao cortar o cabo de vassoura ao meio, o que fez foi cortar meio falo de seu pai. Então você sai com meio falo na mão e o resto dele te acompanha no Rex [acho que todo cachorro desconhecido, macho ou fêmea é Rex. Coisas de gibi da infância]. Portanto você dividiu o falo no meio cabo de vassoura e no Rex. Pobre pai da moça. Quem manda este pai não dar atenção a ela!

Acho que é assim. Como Freud é complicado!

05/04/12

www.tony-poeta.blogspot.com


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