quinta-feira, 24 de maio de 2012

AS SENHORAS DO PAS


AS SENHORAS DO PAS




Fui atender no PAS. Estávamos no ano de 1994, uma Cooperativa me procurou para atender os doentes de tuberculose.

Apesar de ser na COHAB Arthur Alvim lugar considerado perigoso e a má fama do PAS fui dar uma olhada. O horário das 16 às 19 horas era vago na minha agenda e o salário compensava.  O acesso era por Metro e VAN, muito fácil. Estava no Tatuapé, vinte minutos sem ter que enfrentar trânsito de carro; o Metro na época era vazio. Acabei aceitando.

Era um prédio já antigo, muito grande e mal aproveitado. Cabia um Hospital, mas ninguém percebeu. O Hospital mais próximo da Vila Nhocuné vivia lotado.

 No horário seria o único médico e mais cinco funcionários. Como em muitos dias não tinha nenhum paciente da doença, e tivesse que ficar no posto para não configurar abandono, foi solicitado e aceitei atender alguns doentes de clinica.

Notei que quase diariamente compareceram grupos de cinco ou seis senhoras idosas, sempre vestidas com capricho e perfumadas. Vestiam a melhor roupa que possuíam. Todas eram viúvas, tinham um apartamento no núcleo.

Os apartamentos tinham dois quartos, sala cozinha e banheiro, foram projetados para um casal e no máximo três filhos. Eram portadoras de hipertensão, diabetes ou dor na coluna, enfim doenças da idade.

No mês seguinte todas nos mesmos grupos voltaram, vestidas com carinho, cheias de pó, perfumadas e com algum adereço.

Tinha imaginado que no primeiro mês a frequência era devida a curiosidade do novo médico, as pessoas em comunidades fechadas tendem a ver como é o profissional e trocar informações positivas ou negativas sobre o mesmo. Não parecia o caso, estava diante de um ritual.

Já tinha sido informado do ritual da comunidade onde senhores aposentados, em grupos de quatro a seis se reuniam, liam ofertas de Super Mercados em prospectos e jornais, e como não pagassem ônibus nem metro andavam São Paulo inteiro para comprar no melhor preço e esticar a aposentadoria. Sobre mulheres não tinha ouvido nada.

Examinando estas sorridentes e afetuosas senhoras, notei que tinham um leve cheiro de bebida alcoólica. Fiquei mais intrigado. Estaria frente a um grupo que se alcoolizava? Não parecia.

Mês seguinte resolvi tirar a limpo. Indaguei como era o ambiente familiar, já que as imaginava morando só ou com um filho.  Não foi o que descobri. A situação na época era de desemprego, os filhos e filhas casados destas senhoras ficaram desempregados. Voltaram à casa de mamãe com o cônjuge, os netos e às vezes um ou dois bisnetos. Tudo no apartamento popular.

Mas não encerrava o caso. Com a situação de desemprego, também entraram de sócios na aposentadoria do idoso. Realmente uma situação deprimente.

O ritual consistia então, uma vez por mês, as idosas se reuniam para ir ao médico, se arrumavam como que para uma festa, compravam um litro de Martini, tudo com algumas horas de antecedência. Ficavam batendo papo e depois iam buscar o remédio. Era o lazer mensal das mesmas.

Foram religiosamente a consulta até acabar meu contrato.



24/05/2012

  


Um comentário:

  1. PAS foi um atendimento a saude na gestão do Sr. Paulo Maluf como prefeito de São Paulo (1991 a 1995) Causou gende polêmica e no final do mandato do mesmo foi encerrado.

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