domingo, 6 de maio de 2012

CULTURA DO INDIVIDUALISMO


CULTURA DO INDIVIDUALISMO






É visível que a sociedade caminha para o individualismo. Estou certo que é só uma fase adaptativa, caso contrário seria o caos e, não existiria mais o grupamento humano; é muito difícil pensar num grupamento sem coesão, com cada um fazendo o que bem entende. Seria totalmente neurótico e inviável. Mas, que o individualismo é tônica na relação diária da sociedade ocidental na qual convivo, é incontestável. Para esta situação não há uma causa única, toda mudança abrange um todo. Nada existe de forma isolada.

Um dos pontos que mais se destaca neste mudar é o fator econômico. Como leigo no assunto, só posso fazer comparações. Vou voltar 50 anos, com dezoito anos, começando a vida e comparar com o que ocorre nos dias de hoje. Vamos supor que naquela época eu quisesse me estabelecer, por exemplo,  com uma quitanda na esquina de casa. Para isto precisaria um capital determinado. Não o possuindo iria ao Banco. Sentaria à mesa junto ao gerente e, este escutaria meu projeto. Analisaria ponto a ponto junto comigo: local, disposição, clientela, fornecedor e avaliaria sua viabilidade. Caso positivo daria o empréstimo necessário, em um numero determinado de parcelas, um valor que eu pudesse honrar.

Hoje, se eu me propusesse a criar uma loja de componentes [não existem mais quitandas], iria ao computador, veria o saldo pré-aprovado meu ou de meus familiares no banco e pegaria o dinheiro.

A diferença está no fato do amparo social do primeiro. Havia interesse pela instituição bancaria que eu me saísse bem, pois era a forma de garantir o recebimento do empréstimo. Ou seja, a instituição exercia sua função social, mesmo que por interesse, e me amparava. Hoje simplesmente pego o dinheiro sem contato pessoal e, é meu o risco. Não há mais o amparo. [Um numero altamente expressivo de empresas fecha as portas nos dois primeiros anos].

Estes dois exemplos mostram uma diferença gritante, em um prazo pequeno, da diferença da inclusão social. No primeiro caso, que muitos consideram mais humilhante, o que não é fato, a sociedade usava mecanismos de proteção. A análise detalhada do negócio e riscos dava a segurança ao jovem empreendedor e mais que isto, amparo. A sociedade amparava aquele que iniciava seu pertencer. O homem era responsabilidade da sociedade como um todo. Hoje, ao conseguir seu capital por via virtual, a responsabilidade social passa a ser do individuo, seu triunfo ou derrota pertencem só a ele. Ele não mais se relaciona com a sociedade. Passa a ser um elemento autônomo, sem vínculos. Ou seja, totalmente individualista, o que acarreta falta de qualquer compromisso social, a sociedade não participa de seu viver.

Vamos estender este comportamento à vida familiar. Antigamente, o casal, com funções socialmente definidas, ao realizar a união, explicitavam bens comuns. As coisas particulares do pai, geralmente referentes ao trabalho e as da mãe eram respeitadas. O restante era comum. A função familiar era totalmente comunitária. A predominância absoluta era o “nosso”, definido em análise individual de caso a caso. Nada se comprava sem consenso, nada se desfazia sem a mútua concordância. Enquanto o homem tinha a função de provedor, sua esposa a função de transmitir “a sociedade” em sua prole. Tudo organizado [Em final de 1800, Nietzsche já percebia que a sociedade mudava, com a frase Deus está morto]. Com o aumento de produtividade, as funções cada vez mais especializadas, [onde se perde o todo], e o consumo exigindo cada vez maior ganho para o padrão social do momento, as funções perdem a delimitação e se tornam individuais. O que era resolvido socialmente por um “gerente”, ou seja compartilhado e amparado socialmente, estudado e conjunto, passou a ser “individual, sem o coletivo, como no crédito pré aprovado na internet, onde cada membro, não mais a família agiria por conta e risco.

O que vemos hoje são casais com contas bancarias individual; trabalho independente, muitas vezes competitivo, sem função definidas na educação dos filhos que pouco veem, ou seja, ficam nas escolinhas, os pais trabalhando e no pequeno contato a noite não há compartilhamento. Os objetos dentro de uma casa passaram a ter donos, “é do papai ou da mamãe”, muitas vezes guardados em armários individuais. Aliás, se individualiza todo o possível, armários, banheiros, TV, telefone (hoje, cada um tem o seu}, computadores. Se olharmos bem o único compartilhamento existente são os filhos, e quando seguem vida própria, nada mais há de comum e o individualismo se mostra com toda a força.



Este modelo, com um pouco de boa vontade pode ser estendido a todas outras situações humanas. É uma severa quebra de vínculo. Não significa uma sociedade perdida, mas em transformação. O rumo que tomará ninguém sabe. A única coisa palpável é que a mudança tornou-se muito acelerada nos últimos anos, e, sabemos: a acomodação social é lenta e se demorará a alcança-la. De momento só o dialogo consciente pode atenuar o choque da mudança.



06/05/12

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