terça-feira, 15 de maio de 2012

O DIAMANTE O BEM-TE-VI E O SABIÁ.


O DIAMANTE O BEM-TE-VI E O SABIÁ




Entre a lua se por e o sol nascer, no pico da serra, bem na nascente do riacho brilhava uma luz que brotava do chão ao lado da água, cercado dos frutos do ingá que atraiam os peixes, esquilos e outros animais. Nesta hora o Bem-te-vi anunciava o dia e o sabiá contava a triste história do mundo. Os dois moravam no ingazeiro.

Na casa humilde de madeira Juca olhava toda manhã a luz fantástica que anunciava o dia e, fazia sua louvação à natureza.

O filho João queria buscar a pedra da luz e Juca nunca deixou-: Lá nasceu. Lá é sua morada, dizia.

Jucá adoeceu, era velho, adoeceu de morte, João e Ritinha, mocinha e mimosa, neta do caboclo oravam. Os homens da capital vieram mais uma vez tentar comprar a pedra brilhante da propriedade, que Juca nunca vendeu.  Falaram que pagariam à vista, muito dinheiro. Daria para chamar um médico para ver o doente, comprar um pequeno trator e arado para o roçado, um vestido, panelas novas e roupas para João e a filha.

Pensando no trator, chamou o médico que disse o esperado:- O velho vai morrer. Tinha vendido a pedra.

O enterro não foi a pé com os vizinhos de toda vida levando o caixão do companheiro e, rezando a ladainha de despedida. O único esforço foi por o caixão no trator, João cuidando para não sujar a roupa nova. Seguiram ao cemitério, sem esforço e sem reza.

Neste dia o sabiá calou e o bem-te-vi não cantou, dizem.

A pedra muito grande era um diamante. As raízes do ingazeiro, que iam da terra ao rio passavam por cima deste e o fixavam. Derrubaram o pé de Ingá. Acabou a comida naquele ponto da mata. Mudaram-se o sabiá e o bem-te-vi.

Para levar a pedra a capital, chamaram um carro forte e dois carros de escolta. Todos bem armados. Tentaram assaltar, morreram quatro ladrões, cinco vigilantes, mas a pedra chegou.

Foi vendida ao banco, mandaram-na a Europa, não havia laminador para tão preciosa joia. Filmaram e bateram fotos que se espalharam pelo mundo.

Na maior lapidação, o mais hábil laminador achou o veio da pedra. Era perfeita, de tão poucas rebarbas não daria destaque nem em joias menores. Era o maior diamante já visto. Grande o suficiente para não se acomodar em nenhum ornamento, nenhum turbante e nem na mais preciosa coroa. Muito pesada. Era única. Foi a leilão.

Por uma fortuna não calculável, um rei de petróleo a comprou. Posou junto à caixa de vidro a prova de balas, com comandos eletrônicos de proteção, ele, o sorridente comprador com suas duas filhas, para as fotos. As moças elegantes não eram bonitas, nem feias, eram bem maquiadas, pois andavam com maquiador e esteticista. Levavam até cabeleireiros. Vestiam-se com grife escolhidas por um estilista particular e dizia-se que eram cultas, já que falavam inglês, frances e alemão que aprenderam desde novinhas.  Na verdade não eram mais bonitas que Ritinha e, a moça da roça fazia contas aritméticas melhor que elas.

Após um mês de exposição, onde se tornou atração turística, o gigantesco diamante que não servia para joias, comprado com dinheiro do povo, que passava necessidade foi colocado numa caixa à prova de bombas, sem luz e colocado para adormecer em um cofre de banco mais escuro ainda.

Na colina, a beira do riacho, a areia recém-descoberta pela retirada da árvore, brilhava difusamente ao se por da lua e nascer do sol num festival de cores. O bem-te-vi cantava a louvação do dia e o sabiá triste contava a história do mundo. Muitas mudas de ingá brotavam à margem. João saia para roçar com a roupa velha e Ritinha cozinhava com as panelas novas sonhando com o amor.



15/05/12

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