terça-feira, 22 de maio de 2012

OS TUBOS, AS PESSOAS E AS ELEIÇÕES

OS TUBOS, AS PESSOAS E AS ELEIÇÕES.






O Zezinho não podia mais dar dentaduras, óculos, nem camisetas. Foram acabando com tudo para moralizar a política. Estava difícil de ser reeleito. Eram cinco candidatos.

- Piorou muito, falava ele. A gente está pagando tudo antecipado, político está com fama de não pagar. Agora nem pagando pode fazer. Falava ele várias vezes por dia para seus dois assessores, Gerson que trabalhava pelos votos dos funcionários e Rogério que ficava em contato com a população.

Tinham embelezado toda praia. Todas as cidades do litoral fizeram isto. Turista não vota, mas a população gosta de ver beleza. E continuava no gabinete andando e resmungando:

- Não podemos perder nenhum voto, insistia ele para os assessores.

Judite da Promoção Social pediu para conversar. Sempre trazia problemas.

- Manda entrar, falou o Prefeito.

Da. Judite funcionaria antiga da Prefeitura, da família do Prefeito, prima distante, chegou e, com um problema.

- Sabe se Zezinho, aquele terreno sem muro que de vez em quando jogam entulho e que a gente diz quando reclamam que não é da prefeitura e vamos notificar os proprietários?

- Sim, aquele terreno da Rua Cinco?

- este mesmo. Jogarmos umas tubulações lá e mudou um homem e a esposa grávida para os canos, ainda levaram o cachorro. Não podemos dizer que é terreno da Prefeitura.

- Fala com o advogado, manda a petição que o Juiz manda tirar.

- E mando-o para onde?

- Para o abrigo de desalojados, oras!

- Não dá. A outra mulher dele está no abrigo.

- Outra mulher?

- Sim, quando pegou fogo na Favela, ele é da Bafo de Onça, ele estava preso.

- Então é bandido, manda tirar na porrada.

- Não, não é bandido. Era casado com a Joana Darc e tinha dois filhos, pagava pensão para outra, por mais um filho, e engravidou a prima da mulher atual. Não conseguiu pagar a pensão alimentar e foi preso. Estava preso quando o barraco atual e da Joana Darc pegou fogo. Estava registrado em nome dela e ela passou a receber o beneficio do incêndio. Para complicar perdeu o emprego quando foi solto. Não tem onde cair morto.

- Tem que dar um jeito, nem que for na marra, falou o Prefeito.

- Na marra não dá, interviu o Rogério, todo mundo da Bafo de Onça votou no senhor na outra eleição.

- É não podemos perder nenhum voto, replicou o Prefeito, e continuando. Será que ele vota Da. Judite.

- Não só vota como a família dele tem mais de vinte votos.

- O problema é sério falou Sr. Zezinho, Rogério, arruma uma casa para ele, faz de conta que ele foi sorteado.

- O Sr. Está louco Prefeito, é pedir para não tomar posse, isto descobrem. A lei está dura, por aí não dá para fazer mais nada. Estão olhando até se damos camisetas. Falou o Rogério.

O Prefeito ficou pensativo.

- Da. Judite, falou ele, se ajudarmos ele vota.

- Sim Sr. Prefeito, ele e a família já votaram na outra eleição.

- Vê então o que falta para ele. Onde estão os tubos não tem vizinhança, só turistas e está frio, só voltarão à praia depois da eleição, quando esquentar. Como ele está se virando?

- Toma banho no quiosque que o Sr. fez, construiu um fogareiro de tijolos, e está com um carrinho velho de Supermercados para pegar latinhas e papel.

- A mulher não está grávida? Retrucou o Prefeito.

- Esta de cinco meses, vai dar a luz antes da eleição, falou Da. Judite.

- É muito sério. Ele falou que precisava de alguma coisa, continuou o Prefeito.

- Só disse que te pouco espaço, até brincou que falta um tubo. Mas de resto ele se vira. Disse Da. Judite.

- Se eu ajudar o pessoal vota em mim? Lançou a pergunta no ar.

- Lá votam falou o Rogério.

- Ele disse que tem tempo para ajudar na campanha, está desempregado. Falou Da. Judite.

- Bom, com aspecto triunfante de quem tem uma boa ideia o Prefeito falou.

- Da. Judite, avisa que, nos bicos de campanha vou chamar este senhor para ajudar e, depois vou falar com ele e afirmar que depois de eleito vou arranjar uma casa popular e um emprego comissionado de vigia para ele em alguma escola.

- E até lá ele fica morando nos dois tubos? Perguntou Da. Judite curiosa.

- Não! Falou Sr. Zezinho, ninguém vai dizer que sou desumano com meus cidadãos deixando viver naquele aperto. E dando ordens:

- Rogério, manda mais dois tubos para este cidadão.







-








Nenhum comentário:

Postar um comentário