sábado, 19 de maio de 2012

TEM O IDOSO QUE OBEDECER?


TEM O IDOSO QUE OBEDECER?



Ao redor dos anos oitenta o SESC iniciou o Programa da Terceira Idade. Organizados, como sempre, foram altamente eficientes; montaram equipe e começaram a difundir o projeto.  Em Marilia com intuito e formar grupos na cidade trouxeram a equipe. Fui convidado para dar uma palestra.

O resultado foi bom, formou-se o primeiro grupo no Educandário. Dando continuidade fui convidado a dar palestras em varias outras cidades para ampliação do projeto. Foi contatado Presidente Prudente, Ourinhos, Lins; sendo que a palestra se dirigia a Assistentes Sociais locais, como acontecera em Marilia. Era concomitantemente providenciado espaço apropriado e começava o trabalho social gratuito, até então pioneiro no estado.

O resultado foi bom, fiquei colaborando com orientação e palestras em Marilia, e as Assistentes Sociais deram continuidade ao trabalho.

O projeto foi realmente importante para os idosos e iniciou-se uma reintegração social dos mesmos, o que na maioria dos casos encontravam-se isolados.

Hoje, trinta anos depois, já com mais de sessenta anos, olhando para trás, vejo a que absurdo chegou nossa sociedade de consumo e produção. Houve uma exclusão total do idoso.

O ancião em todos os povos, e em todos continentes, foi por muito tempo a referencia para resolver problemas familiares, da comunidade e dos povos. Em toda história temos Conselho de Anciões, ou na forma do Senado Romano onde os mais idosos e ilustres faziam parte, portanto anciões e mesmo nos povos tribais o conselho dos anciões funcionava plenamente.

Com a atividade industrial, o nome foi trocado [estou falando de observação em nosso país, e pessoal como geriatra], A palavra foi abolida. Os idosos continuaram mandando, praticamente sem mudanças, mas passaram a ser referidos pelo nome do cargo que ocupam. Por exemplo: os três últimos presidentes: Fernando Henrique, Lula e Dilma tinham e tem no cargo mais de sessenta anos. São idosos, mas isto não é citado. A igreja católica, do Papa aos Cardeais, não há praticamente ninguém mais jovem. Os governantes asiáticos, a cúpula do poder é de idosos e assim por diante. Mas a palavra ancião, a correta para o cargo é omitida.

Qual o interesse?

A sociedade de consumo se mantem com o apelo e, compra por impulso. Quem tem um laptop não necessita de um tablete, como acontece em dias atuais. O jovem compra de impulso; já a pessoa mais experiente analisa com cuidado. Não compraria. Portanto não interessa ao sistema. Este grupo, na época oito por cento da população não era interessante. Já vinham leis oficiais veladas para enfraquecer o grupo. Após os 35 anos já ficava difícil arrumar um emprego, imagine aos cinquenta? Começou a se desempregar o grupo, a ponto do governo militar, já naquela época, notar a penúria dos idosos expulsos do mercado de trabalho, e instituir a Renda Mensal Vitalícia, um programa de distribuição de renda, de meio salario mínimo, para aqueles idosos não amparados de qualquer forma de ganho.

Na época, os programas humorísticos já ridicularizavam os idosos de forma grosseira, sugerindo que os mesmos eram pessoas sem raciocínio, ridículas e até loucas.

A sociedade passou a ter: a infância, o adolescente, o adulto jovem, o adulto e...  Ficou a lacuna. Os idosos produtivos eram o Presidente, o doutor, o empresário, etc..  Nunca o ancião.

O termo velho era motivo de chacota, portanto inviável, sobrou como referencia a este grupo o termo idoso que de certa forma remete a velho; maduro não foi usado, pois é linguajar de elite e não falado por todas as classes sociais, senescência então nem pensar. A marginalização foi tanta que perderam a palavra adequada para a faixa etária e começaram inventar: Terceira Idade, Melhor Idade, ou seja, uma palavra composta e, com um quê de segregação.

Isto se refletiu na vida familiar. O idoso marginalizado, dependente e ridicularizado lá fora, não mais pode abrir a boca, salvo nos casos em que tem dinheiro, onde o dinheiro e não a pessoa se impõe. No geral certamente não será ouvido, ou se o for será contestada imediatamente.

Foi, portanto excluído, o que não significa falta de amor, mas sim falta de confiança em sua relação com a sociedade. Isto leva os familiares se acharem no direito de determinar toda a vida do mesmo: o tipo de alimentação, o tipo de lazer, as relações de amizade; ou seja, de obedecer aos familiares cuidadores. Atualmente, com a vida corrida e a falta de tempo a situação se agrava, que além de mandar, não há mais espaço para se ouvir as possíveis contestações, geralmente justas dos mesmos.

O que vejo no consultório é o parente falando:- ele não obedece. Como que uma pessoa que construiu sua vida, educou sua família e fez uma história, não tivesse condições de decidir o que é melhor para sua vida.

O grupo de terceira idade é atualmente, como já era na época, indispensável para proporcionar um pouco de bem estar a quem contribuiu socialmente por toda vida. Cabe agora aos anciãos governantes um pouco de sensibilidade, para tentar reverter este jogo sujo de consumo-propaganda, e começar a fazer inserções positivas para que os idosos possam recuperar a dignidade vergonhosamente roubada.

No momento isto parece longe de acontecer. Na atual crise dos países da Europa, uma das medidas foi o corte de aposentadorias [como que isto resolvesse o problema]. O que constitui uma covardia; se está batendo em quem não tem como se defender. O que pode ser comparado em se agredir um invalido a socos e pontapés. Os anciãos mandantes é que estão precisando de...  juízo.  



20/05/2012

























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