terça-feira, 19 de junho de 2012

CINE LAR


CINE LAR




O Cine Lar era um pequeno cinema em São Paulo, ficava na Rua Cincinato Braga com a Av. Brigadeiro Luiz Antonio anexo a Igreja. Era lá que cabulávamos aulas de quinta feira, quando trocava o filme da semana. Era época das grandes produções Épicas e sempre gostei do gênero, gosto até hoje.

Todo filmes desta temática lá assisti. Estava no Ginásio, o equivalente de quinta a oitava série hoje, a escola ficava bem próxima na Avenida Paulista. O curso era noturno, todos os alunos trabalhavam, era obrigatório para se matricular. Para fugir das aulas tínhamos muitos estratagemas, um deles, era o seguinte:

Algum aluno, mal feito nunca tem autor, descobriu num dia de ventania, e na Avenida Paulista venta muito, que dois fios de acesso à escola estavam descascados e entraram em curto com a movimentação. Como os fusíveis não ficavam a disposição, fomos dispensados. Foi o bastante para que em dias de jogos no Pacaembu que dá para ir a pé e nos dias de filmes badalados, alguém entrasse em baixo das palmeiras onde se encontrava o poste de luz e o cutucasse com uma vareta que já estava estrategicamente guardada.

Neste dia que hoje me veio à lembrança tive uma visita no almoço. A Alameda Lorena tinha muitos moradores imigrantes, e aconteceu de três judeus ortodoxos, com suas pesadas roupas, apesar de estar um dia muito quente, me procuraram. Queriam de todo modo saber por que eu não frequentava a Sinagoga. Mesmo falando que minha família era procedente de Portugal creio não ter convencido. Fui para escola pensando se realmente era tão parecido.

À noite queimamos o fusível e fomos ao Cine Lar. Chegamos antes da sessão e ficamos conversando quando esta começou. Passava um “jornal” e depois o filme. O gerente do cinema se dirigiu a mim e falou ríspido que entrasse: - Você tem que prestigiar Nasser que está unindo nosso povo. Confundia-me com árabe e a meu lado estava o Salim que estudava na mesma classe e era filho de libaneses. Enquanto este ria, achei por bem assistir o tal Nasser a quem desconhecia.

Fiquei realmente impressionado com a liderança. O mesmo falava para uma multidão que o aplaudia e o seguiria em qualquer circunstancia. Nunca vira tal coisa; situação política do nosso País era confusa e com poucas lideranças. Respeitei e admirei tal liderança.

Pouco tempo depois Nasser foi brutalmente assassinado em uma parada militar, onde um tanque disparou um artefato onde este se encontrava com a família.

Hoje a morte de Mubarak, linha direta desta sucessão golpista me veio à lembrança Nasser e a dignidade que pregava ao povo. Mesmo outros militares ainda detendo o poder, o povo acabará por fazer as reformas necessárias.

Nossa vida é muito breve em relação à história que continua sempre e, independente do tempo acolhe os novos e necessários pensares.

20/06/12

Tony-poeta






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