sábado, 2 de junho de 2012

COMO CAMINHAR


COMO CAMINHAR




Anderson recusou uma promoção. Ganharia mais 20 por cento ao mês. O comentário geral é que era “folgado” e não queria fazer nada.

Na verdade era um rapaz calmo, não fazia nada correndo. Trabalhava em um pequeno Hospital onde se executavam procedimentos simples. No estabelecimento estavam empregados apenas sete funcionários administrativos, fora os da área médica.

Era Office boy, quase não tinha serviço; poucas correspondências e uma ida apenas aos bancos, sempre de rápida execução. A promoção oferecida era trabalhar interno, preenchendo guias e fazendo a somatória das cobranças; a partir daí encaminharia a outra pessoa que completaria a tarefa. Era um serviço simples, de pouca responsabilidade, já que havia uma conferencia posterior. Pouco alteraria no seu tempo de atuação. Mas não aceitou resoluto.

Dizer que era incapacitado para o trabalho seria inverdade. Estava no momento careca, tendo passado numa Faculdade de Ensino Profissionalizante e, utilizava com conhecimento a computação; na época esta estava em fase de implantação e expansão. O Hospital estava ainda iniciando esta área.

Também não era acomodado: como torcedor fanático do Corinthians, ficara retido em Porto Alegre por um dia, onde fora assistir um jogo, devido a uma briga. A viagem foi de ônibus e a empolgação e agressividade das torcidas de futebol é sobejamente conhecida.

Não necessitar de dinheiro, mesmo pouco, também não era o caso; vinha de família de poucas posses e lutava com sacrifício.

Apesar da acusação geral de louco, preguiçoso e outros atributos endereçados, tentei entender. Creio que ele estava certo.

Todo ser humano nasce potencialmente capaz de se tornar líder e se adaptar a situações de grandes adversidades. Creio que Liderança e Adaptação são condições básicas para a vida e sobrevivência das espécies.  Sem este atributo a espécie teria desaparecido da face do planeta. Enfrentou as mudanças climáticas com dizimação gigantesca; se refizeram as populações severamente castigadas por pestes, outros animais predadores e, com mais gravidade ainda por outros homens, nas guerras de brutalidade total.

Se não houvesse adaptabilidade e, se entre os elementos remanescentes das tragédias não houvesse elementos capazes de liderar, estas comunidades teriam desaparecido. Com a repetição de eventos, a espécie também desapareceria.  

Voltando ao jovem Anderson, este se encontrava num momento de decisão e adaptação. Com a maior idade pode acompanhar seu time de futebol, viajar, torcer, passar frio; ou seja, tornar-se realmente um torcedor e não apenas acompanhar pela televisão. Fazia parte de sua adaptação social, a formação de um grupo próprio.

O fato de entrar numa faculdade estava direcionando seu objetivo de liderança, em três anos teria que iniciar uma nova profissão, e traçar um objetivo de destaque social, que possivelmente sua família não possuía.

Aceitar uma nova função, mesmo simples era abrir novo campo de ação. Este desvio de objetivo, que proporcionaria um ganho material de cento e cinquenta reais por mês, o que não era nenhuma fortuna, daria apenas para satisfazer pequenos gostos, sobrecarregaria seu dia e poderia atrapalhar uma rota já definida.

Este:- Não! Ou intuído ou orientado por alguém mais experiente, mostrou maturidade. A promoção com certeza atrapalharia a etapa já definida, por ser paralela; outro foco, portanto.

É bom lembrar que não nascemos andando. Primeiro engatinhamos, damos passos cambaleantes a seguir. Depois andamos inseguros com muitos tombos, para só depois andar firme. Correr só como diversão ou fuga, Não se exige que se corra no dia a dia, e quem o faz está cometendo um erro. A vida tem suas propriedades, mas todas tem um tempo correto para se desenvolverem.

Creio que pelo bom senso, Anderson deve ter tido sucesso no seu objetivo.



02/06/12


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