FANTASMA NUM DIA DE SOL
Ainda brilhava um sol forte, calmo sorvia meu pensar, nada me afligia. Súbito um vento surdo apertou a alma e comprimiu o coração. Que aflição podia me incomodar? De uma multidão de fantasmas me vi rodeado, senti vampiros sugarem pensamentos e jogar-me ao vazio. A angústia em forma acelerada chegou. Ninguém a chamou, mas estava ali.
Olhei na multidão sem rosto, mas que sabia ser passado. O que passou afligia. Eram amores roubados, amigos abandonados, momentos de aflição, A multidão de sombras afligia. Não sabia que eram tantas, nunca me recordaria. Procurei um momento bom para amainar o aperto e o frio que corria o corpo.
Vi um sorriso, ah! Um sorriso amigo. Lembro-me. Lembro bem de sua face, mas nem do nome recordo. Foi tão breve! Apenas uma intenção passageira que findou antes de começar.
Mas o sorriso cobrava. Sorria o passado cobrando a ausência, sendo que nunca houve presença. Um flerte talvez. Uma pequena intenção. Era a menina sorriso que ficava parada na porta da joalheria que trabalhava, esperando-me passar. Eu andava, sempre atrasado, na Barão de Itapetininga, e nos passos rápidos, retribuía o sorriso, mas nunca parei para receber o presente, a joia que que ansiosa a moça sem nome queria me dar.
Cumprimentei o sorriso, morrendo de medo, a boca sem face estava a sorrir como a debochar. Um sorriso de desculpas formei temeroso. Sorri com o peito apertado. A boca criou face, olhou com um olhar triste de despedida. O aperto sumiu, o frio passou. Estava triste, era o fantasma de um sonho de amor que a vida transformou. Passou chorando. Voltou como fantasma num dia de sol cobrando a atenção não recebida e foi embora triste. Era o ritual do adeus.
17/06/2012
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