sábado, 16 de junho de 2012

GRAVIDEZ E DEMOCRACIA


GRAVIDEZ E DEMOCRACIA





A empregada de Dona Eulália estava grávida. Franciene trabalhava há três meses para o casal Eulália e Matheus e teve uma hemorragia.  Telefonou avisando.

Franciene era migrante, um dos muitos que vinham para a região, trabalhavam muito, levavam uma vida controlada e, mesmo com o pouco que ganhavam conseguiam ter o básico, uma casinha, alguns eletrodomésticos e um pequeno conforto. Foi visitar a família, voltou, começou a trabalhar e ficou grávida.

Como estava registrada não preocupou de inicio. Tendo que se afastar, teve o benefício negado pelo INSS, a patroa anterior tinha registrado e não recolhido. Estava desamparada. Mesmo tendo marido, alguma dificuldade era esperada.

A patroa ficou indignada, com a situação que colocaram a pobre moça, começou a comentar a deslealdade e má fé, com suas amigas. Seu Matheus observava. O primeiro telefonema lhe chamara atenção:

- Franciene está grávida falava a patroa

- Credo! Você vai ter que pagar a licença? Respondeu a amiga do outro lado da linha.

Os seguintes seguiram a mesma direção. A educação do patrão era bem clara. Seus pais falavam: - Quem está em baixo do teu teto, mesmo que temporário é de tua honra ampará-lo.  Referia-se a Sodoma e Gomorra, onde a desagregação social fez as duas cidades serem transformada em pó, junto com seus habitantes. 

Como jamais pensaria em desampara uma pessoa a seus cuidados, seu Matheus começou a observar. Olhando na Internet viu que toda doméstica tem direito ao salário maternidade, portanto a maioria daquelas conversas era sem sentido. Comunicou a esposa.

Ouviu ao telefone quando esta comunicava as amigas:

- Mas você tem que continuar pagando os R$ 80,00 do INSS. Falou a amiga da família. As outras para variar falaram a mesma coisa.

Seu Matheus ficou indignado, ninguém perguntou se a moça passa bem, apesar de ser uma pessoa de confiança do casal e, o pior, ninguém citou uma única vez a criança que iria chegar à sociedade. Nasceria no mesmo local, onde todos moravam e teria, portanto a cidadania do lugar; o rumo da conversa a marginalizava antes de nascer; era como não existisse ou fosse nascer um objeto. Pareceu a seu ver que a sociedade tinha só uma estrutura monetária. Todos outros valores pareciam abolidos.

Observava ele, ainda pensando no afastamento da moça, quando viu na série de crimes que passa na televisão, as Policias Pacificadoras, e toda polemica levantada por esta, mesmo a maioria dizendo que era válido, outros alegava que a presença do exercito era antidemocrática. Como, tanto Franciene e as UPPs se referiam ao proceder de um povo, portanto: a democracia. Foi se informar. Abriu um livro. Dicionário de filosofia.

Realmente ele, como o restante da sociedade não estão conscientes do que é democracia moderna foi a primeira constatação. A atual democracia, aprimoramento da democracia antiga, ou seja, feita as correções necessárias, dizia o dicionário:

Popper: [um filosofo moderno, muito critico] Democracia não se trata de ir em direção ao povo ou agir pelo povo, mas tornar o povo protagonista. O problema não é se o povo deve governar, pois o problema é saber COMO governar, e isto significa concretamente que o povo pode desfazer-se do governo, sem derramamento de sangue, caso seus direitos sejam lesados.

Já Benson [um filósofo católico] complementa que democracia implica em uma sociedade fraterna.

Seu Matheus começou analisar, Governo é para administrar, o povo é quem cuida da sociedade. Se há exclusão social, não é só culpa do governo em fazer uma distribuição injusta de rendas, é apenas uma estrutura mal escolhida ou imposta. De qualquer forma consiste numa falha no modo de agir da população, voluntária ou não; onde o poder econômico individual substituiu o lado fraterno, dividindo a população em milhares de camadas, estas estratificadas de acordo com a posse da cada uma e, a coesão social se desfez excluído um ser, antes mesmo de nascer. Lembrou-se de seu pai citando Moisés e o Bezerro de Ouro quando apresentava os Dez Mandamentos. Já sabia ele, naqueles tempos, que o poder econômico não daria coesão a uma sociedade nascente.

Democracia pelo conceito moderno, pensou, é coesão social com inclusão de todas as camadas; o poder político e econômico, não são os fatores principais da mesma e, pelos filósofos modernos pode até ser excluído.

Iria pagar o INSS como sempre pensara, muito tranquilo. Estava contribuindo para a democracia.



16/06/2012




Obs. Não sigo nenhuma religião.

Dicionário de Filosofia Nicola Abbgnano 1ª edição revista e ampliada.

  

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