sábado, 23 de junho de 2012

A MOÇA QUE SORRIA









A MOÇA QUE SORRIA.







Estela era muito bonita, diziam que era a garota mais atraente da cidade e, realmente os rapazes a consideravam. Trabalhava numa das maiores firmas da cidadezinha, andava sempre muito bem arrumada, com roupas de bom gosto, salto de quinze centímetros, maquiagem perfeita e cabelo tratado no melhor cabeleireiro. Tinha plena consciência de que era atraente, e desfilava na passarela da calçada gostando de ser olhada. 

Tivera poucos namorados, sempre os mais atrevidos, com namoros que não duravam mais de duas ou três semanas. Nunca ninguém soube o motivo destes rápidos relacionamentos. Os jovens menos arrojados nunca tiveram nenhuma oportunidade, apenas arrancavam-lhe um sorriso com os lábios, sem nenhuma expressão facial.

Nos nossos bate-papos corria uma história: Diziam que havia lido numa revista feminina que gesto de rir movimenta todos os músculos da face, o que lhe provocaria rugas; já sorrir, a quantidade de músculos era bem menor e a formação de rugas seria muito pouca, o que não estragaria sua beleza. Se verdade ou mentira: não sei, mas nunca a vi dando uma verdadeira risada. Sempre estava ela com aquele risinho de lábios, sem contração da máscara facial.

Mudei da cidade. Voltei hoje, após muitos anos. Já estava envelhecido. Conversando com os velhos companheiros lembrei-me de Estela. Recordamos o seu não rir e sua forma de andar e se comportar, sua classe, seu modo impecável de se trajar. Eles me relataram como ela se encontrava e descreveram do seguinte modo:

Continuava toda arrumada, impecável com o cabelo bem tratado, com poucas rugas para a idade; parece que a revista estava certa, pois evitou a cirurgia plástica. Continuava a sorrir só com os lábios, permanecia secretária de boas firmas e seu serviço ainda era muito disputado devido a sua classe.

Continuava morando na mesma casa, os pais já haviam falecido, continuava desfilando na passarela da calçada com seu salto de quinze centímetros. Era uma jovem idosa realmente ainda bonita, sem filhos e persistentemente solitária.





11/2011

Tony-poeta


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