quinta-feira, 28 de junho de 2012

O CASAMENTO


                                       O CASAMENTO




Milene era uma pessoa adorável, com seus dezenove anos, trabalhando em um ambulatório médico, sempre tumultuado, nunca estava de mau humor ou destratando algum paciente. Conseguia manter a calma, mesmo quando agredida, coisa comum em atendimentos médicos.

Tinha um rosto lindo, e como protestante tradicional, usava roupas sempre discretas, com saia comprida, onde só se via a canela ou pouco acima; dava para notar que as canelas eram fininhas, mas a roupa disfarçava e prevalecia a beleza dos traços faciais e da alegria que sempre era presente.

Milene era noiva de João, uns dez anos mais velho que ela. Considerado bem feio pelas moças que trabalhavam no local. Diziam que ela era demais para ele. Isto fazia parte dos falatórios dos anos noventa, em adaptação da liberdade sexual recém-adquirida, o papo sobre relacionamentos e sua analise corria solto.

 Mas Milene era virgem convicta.  Era um espanto. Quase todas as moças já tinham experimentado vários relacionamentos na época, e o ambiente era de choradeira de amores desfeitos e casamentos complicados. Virgindade era já um assunto estranho. Mas além de virgem dizia: que assim se manteria até casar com o João.

A vida da moça era muito simples, ia e voltava de motocicleta com seu noivo, frequentava com ele a mesma Igreja, onde tinham sido apresentados pelo Pastor. Levava marmita para economizar e arrumar a casa onde moraria. Namoravam em casa e no Culto. Não tinha outras extravagâncias e não frequentava as frequentes festinhas do pessoal, mas não incriminava nada. Apenas olhava e sorria.

Após mais de um ano com o comportamento constante, chegou um dia para trabalhar xingando, falavas desaforos sozinha. Espanto geral. Continuou no mau humor até que começou a chorar de raiva. Foram perguntar o que se passava; o que de tão grave aconteceu.

Não ligando para a atenção que despertava e os olhares de todos os colegas, homens e mulheres, perdeu o recato e começou a falar sem pausa:

- Meu pai não pode fazer isto comigo. - Não vou adiar o casamento como ele quer. - Não tenho nada com o fato de minha mãe perder o emprego. - Vou parar de dar minha parte em casa e ele que se vire para arrumar o dinheiro. -Não vou adiar o casamento. Ele que se vire e, arrematou:

- Dia vinte paro de ser virgem!

E realmente casou dia vinte.



28/06/2012

Tony-poeta

Um comentário:

  1. Moça de palavra a Milene!

    Raridade hoje em dia.

    Um abraço Amigo Antonio, é muito bonito teu blog.

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