sexta-feira, 8 de junho de 2012

O GIRASSOL

imagem Google

O GIRASSOL




Recostado estava, meio sonolento. À tarde chuvosa num gris saudoso, ao mesmo tempo doloroso, quebrava qualquer concentração. Talvez fossem os pingos na vidraça que seguidamente de maneira monótona batiam: tec tec tec tec...  Favoreciam este marasmo e sonolência. Minha mente voava ao acaso, sem fixação nem pensar. Podia nesta tarde chuvosa e fria caminhar no nada e, no nada parar.

Um vento frio caiu do espaço atingindo o não pensar. Veio em rajadas, como ondas emboladas e em redemoinhos começou me levar. Mudei a época. Já viajava aonde seguia o ventar.

Um girassol apareceu, uma biruta em flor? Mostrava campos distantes, passado que fora presente, lugares de dor e de amor, mostrava que o tempo se esconde, num lugar que não sei onde, mas que fica no interior; no interior do ser da poesia, com guerras e confrarias e, sobretudo com o amor. Um cantinho tão bem guardado, discreto até desprezado. É onde se esconde o passado.

Em brumas, iluminando o espaço, afastando as poeiras, eu espectador olhava como fora a vida real, mesmo passado. O girassol mostrava e se iluminava. Como sorrindo apontava que aquilo era amor; um amor de moleque, de onze anos apenas, que nunca o soube se pronunciar. No espaço, como holofote, o girassol revelava luzes e algazarras, confirmando o enamorar.

Mostrava-me eu junto a ela, mirrada loirinha, acanhada. Eu moleque, de calças curtas; ela simples de menina, com olhos azuis. Ela ao olhar o girassol refletia o amarelo do dia, Era a alvorada do amor, a raiar. As pétalas brancas de paz, do girassol, balançavam.

Aonde ainda não havia caminhar, eu e ela andávamos, parece até que dançávamos envoltos em nuvens.

Sentados lado a lado, era um espaço iluminado, sempre; sempre a conversar. Estávamos na carteira. –Lembro-me! Do ginásio. Sempre a disputar o melhor de cada matéria, ora eu ora ela, podíamos comemorar uma vitória contente, que substituía um beijo ardente, pois nunca a consegui beijar.

O girassol me mostrava que: a sociedade reprovava crianças a se enamorar. Ela e eu orgulhosos com notas nas frias matérias, disputávamos na verdade quem melhor podia amar.

O girassol como magoado, de repente abaixou suas pétalas. O núcleo amarelo escureceu, no palco nublado, vi que estávamos ela e eu a se despedir. Menina ia mudar! Estava cabisbaixo e choroso, mas sem chorar. Homem não chora!

Talvez o girassol quisesse que as lágrimas regassem as suas raízes e, lhe dessem novo viçar; que mudasse o rumo da história, que fizesse entoar glória, que vicejasse o amar. Mas no choro contido, olhei aflito o que ia jurar, mas apenas falei que:- um dia iria a procurar.

As brumas se foram, o girassol inconformado que, tentou ser ressuscitado, mas não encontrou o chorar. Desapareceu no espaço e tudo sumiu.  

O tec tec tec da chuva, batendo em minha janela, era sim, o coração dela batendo acelerado pedindo para me reencontrar.

Desolado, só pude sonhar.



08/06/12




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