quarta-feira, 6 de junho de 2012

O RATINHO


O RATINHO




Era o amanhecer! Radiosa cinco e meia da matina. Fechei meus livros escolares.

Sabe! É verão lascado, somente a noite permite que se estude. Tomei meu banho, saí só de cuecas e sentei ao sofá dando os últimos retoques na matéria do dia, ou melhor, da noite, antes de ir dormir.

Estou deste modo refestelado quando vejo, para meu espanto, um camundongozinho que me olha atentamente. Tinha as orelhas bem em pé parecendo estar à escuta de quaisquer movimentos que se fizesse fora de seus olhares, por sinal, muito inteligentes.

Bastou apenas um descuido e, lá estava ele desaforadamente escondido bem embaixo o sofá onde me encontrava sentado.

É um desses sofás-camas antigo; basta ver: o compramos de segunda mão de uma senhora de sessenta anos e, ela já parecia ter uma velha estima pelo mesmo.

Sou estudante de medicina e, a presença de um rato, mesmo simpático como aquele, me sugeriu: peste bubônica, tifo, malária, até unha encravada e dor de cotovelo; portanto resolvi caçar o bichinho.

Não tive dúvidas, transformei-me em gato por autossugestão. Ajoelhei-me ao sofá e tirei um cabo de aço da gaveta; o qual sempre guardei como arma para quando estivesse sozinho na República e, felinamente fiquei a espera do camundongo.

Os pássaros cantaram seu brinde ao dia e, como um conjunto contratado para algum baile importante, foram embora assim que acabaram a função, bem com seus cantores, os galos que calaram à boca e foram cuidar de suas galinhas.

Os gatos, que deveriam estar em meu lugar, tinham passado a noite toda em cio, indelicadamente perturbaram meus estudos, pois além de imitar o insuportável choro de criança, atiçaram a cachorrada da vizinhança, que por sinal não é pequena. Entoaram latidos resmugantes até àquela hora. De repente tudo se calou.

A primeira pessoa a passar pela rua foi à gorda vizinha fabril de algumas casas abaixo. Deu uma olhada espantada através de minha janela. Não atentei por que; daí por diante começou o desfile de homens e mulheres que iam ao trabalho. Todos me olharam, mas persisti em minha paciência felina esperando sair o ratinho, que parecia perceber minha presença.

Das cinco para as sete, as sete e cinco, cada fábrica apitou por sua vez, de acordo com seu relógio, sete horas. O movimento de trabalhadores fabris cessou; em seguida começou o desfile de escriturários e bancários. E o ratinho nada.

Minha paciência felina esgotou. Lembrei-me de uma piadinha do Zoo Disney que saiu no O Pato Donald; onde um filhote de gato estava esperando o ratinho sair de uma tomada elétrica, [daquelas que os porcos copiaram seus focinhos] e, os papais comentavam:-“ Ele não é inteligente, mas tem uma paciência!”.

Graças a esta insignificante anedota, mudei de felino a investigador do DOPS, indo procurar o ratinho onde ele estava homiziado:

Peguei uma vassoura, levantei o assento do sofá. É um sofá cama, como já disse, embaixo do assento tem um local que seria como gaveta; hoje serve de guarda-pó por falta de limpeza da empregada. Não vi o ratinho. Havia somente um buraco no forro que dava acesso às molas.

Achei melhor não destruir o sofá; um tapeceiro afinal de contas custa caro e, usando a técnica do DOPS fiquei dando porretadas a olho com a vassoura, na parte interna do sofá, na doce esperança de alcançar a caça.

Mas que nada, ele parecia perceber minha intenção e ter se escondido muito bem.

O movimento de escriturários e bancários que olharam o investigador de cuecas cessou. Agora desfilavam as empregadas buscando o leite, que pelo visto, o Patrão não tinha tomado, pois já tinha ido ao trabalho.

Olhei o relógio; oito e meia. Vesti a roupa e fui comprar uma ratoeira.



Marilia 30/01/1969

Publicado em O NEURONIO

Período de férias do 1º ano

Linguagem sem modificação
























Nenhum comentário:

Postar um comentário