terça-feira, 12 de junho de 2012

O TAROT


O TAROT




- Fausto, você lê nossa sorte? Este pedido era comum nas reuniões de bate papo, do casal Fausto e Irene. Diziam que ele sempre acertava.

Fausto, recém-casado com Irene era um advogado quieto, só falava e, aí era bastante, quando tomava um pouco mais de cerveja ou, ao ler o Tarot.

Na verdade tinha tido uma criação conturbada, sua mãe Clarisse era ao mesmo tempo insegura e autoritária. Simultaneamente em que exigia, proibia por medo. Se algo que não corresse bem não se sentiria culpada. Pouco deixava o filho falar, temendo que este falasse algo inadequado. Não o deixou fazer nada perigoso como: andar de bicicleta, subir em árvore; ou seja, deu pouco espaço para que se tornasse moleque. Isto o deixou retraído e observador e de pouca conversa.

O fato de observar muito, fez com que tirasse sempre conclusões do dia a dia corretas, onde previa as reações e comportamentos futuros, com alguma facilidade. Seu pai, o Sr. Floriano muito supersticioso e crédulo interpretou isto como dom e não criação. Resolveu comprar uma Bola de Cristal para que o filho desenvolvesse as habilidades espirituais com que fora agraciado segundo seu pensar.

Procurou a tal Bola de Cristal: só a achou em antiquários por valores muito superiores a suas posses. Como queria presentear o filho de qualquer maneira no aniversário e, achava que “dom divino” tem que ser aceito, acabou achando um livro de Tarot e o respectivo baralho. Lá estava tudo escrito e o valor da cada carta bem explicado. Como Fausto pouco saia, logo aprenderia e, seria a mesma coisa que a cara Bola de Cristal.

Realmente, Fausto recebeu o presente e, começou a ler, aprendendo a manejar o tal baralho. Juntando com as observações que já fazia, o resultado ficou mais convincente. Começou a usar isto como meio de se socializar com as pessoas, coisa difícil pela criação que tivera.

Já formado e casado levava o Tarot como meio de ser agradável, pois as pessoas pelo modo de ser tem muitas reações previsíveis e, quando escutando “a sorte” não ouvem mais que dez por cento; o restante interpreta pela própria imaginação, o que as faz sempre achar que o vidente acertou. É assim que funcionam os Horóscopos. Fausto na verdade se divertia com tal brincadeira.

Naquele dia tinham recebido dois casais: Rita e João que frequentavam quase diariamente a casa e, Margarida e Junior com quem tinham tido muito pouco contato. Fausto observara que Junior era narcisista, pouco agradava a tímida Margarida, que pouco falara, apesar de o grupo desenvolver uma animada conversa. Tinham tomado mais cerveja que o normal, apenas a moça tímida pouco bebera. Foi assim que começou a ler a sorte.

Leu à sorte de Junior, fez via baralho as observações que tinha captado, falou um pouco da personalidade e profetizou que este logo se casaria.

Ao abrir o baralho para Margarida, as cartas não eram boas, tendo observado pouco a moça e, um tanto alto, começou a falar o que estas diziam não percebendo que sua censura estava prejudicada. Disse:

- Você não casa este ano. Era o mês de janeiro.

- Vai sofrer muito e acabar o namoro, por que teu namorado tem outra.

- Vai mudar de cidade e, aí sim vai casar e ser feliz.

Falou mais algumas “previsões”. Tomaram mais algumas cervejas. Margarida nada falou. Finalmente as visitas foram embora.

Dia seguinte Margarida e Junior interromperam o namoro e não ficaram noivos, ele realmente tinha outra.

As previsões se confirmaram; tudo que foi falado aconteceu.

Fausto rasgou o livro e o baralho. Jogou tudo no lixo e sempre repetia quando lhe solicitavam a leitura de sorte:

- Isto é muito perigoso.



12/06/12

www.tony-poeta.blogspot.com





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