sexta-feira, 1 de junho de 2012

O VELHO E A VIDA


O VELHO E A VIDA


Balsa de Bertioga




Seus passos cambaleantes pouco se elevam do chão. As pernas são tortas e muito magras. O calção sobra pano, pois as coxas emagrecidas não o preenche. Denota muita idade; o que se confirma no queixo com seu osso saliente, coberto de barba branca não cuidada, da mesma cor dos cabelos e, realça o óculo caído que não se acomoda ao nariz.

Ele caminha resoluto, pronto a resolver seus problemas. Às vezes, alguma pedra ou irregularidade do caminho causa um leve desequilíbrio. Caminha resoluto. Caminha o velho para onde?

A garoa vai caindo, é época de chuvas. A garça isolada voa no tempo, quem sabe para alimentar sua cria? Os quero-queros sempre andando em trio estão estáticos olhando o ambiente. Uma isolada gaivota, perdida de seu bando, desajeitada mergulha para pegar seu peixe e some na mata.

O velho caiçara olha. Olha e anda. Resoluto ainda descobre a vida. A vida não tem idade para descobertas. Ele olha e com ar que denota inteligência, apesar da rigidez facial da idade. Analisa e compara.

Por certo, coisas novas lhe suscitam os amigos que já partiram; os amores que voaram para o infinito, as tristezas e alegrias passageiras. Mas certamente coisas novas vislumbram seu olhar, e novo objetivo o faz caminhar confiante. O humano se adapta a todas as fases e todos os percalços que forem impostos; o caminhar mostra que ainda descortina um mundo, onde novos objetos e novas paisagens ou, novos objetos em velhas paisagens se apresentam. Os objetos mudam e se transformam conforme cada necessidade, nunca o conhecerá por inteiro, sempre há algo novo a ser realçado. Nunca é completo. O objeto muda como a vida.

A idade não acaba o mundo, apenas enrijece a pele, encurta a visão e diminui o caminhar, mas o velho vê a vida. Vê os objetos com suas novas utilidades e, nova poesia já liricamente atualizada. O sentimento de viver e a necessidade de descobrir o mundo continuam inteiros, pois ninguém consegue imaginar a própria morte. Para ele a morte é sempre um acontecimento certo, mas de caráter imprevisível, jamais com data determinada.

O velho caminha para seu objetivo. Caminha firme, pois seu viver é este e está correto. O mundo está adequado para ele.



01/06/12

www.tpny-poeta.blogspot.com


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