segunda-feira, 25 de junho de 2012

SAMUEL E O METRÔ


SAMUEL E O METRÔ




As viagens urbanas de ônibus, sempre nos ajudam a conhecer a dinâmica local; nela podemos ver como são as moradias seus habitantes; como eles conversam; seus sotaques e seus gostos. Sempre que chego a um município diferente, sendo possível, empreendo uma viagem até o ponto final do ônibus e volto até a origem. Ajuda muito a me familiarizar.

Prestava serviços a uma Indústria em São Paulo e conheci Samuel, um Técnico de Segurança do trabalho que me auxiliava. O mesmo namorava no Metrô. Achei um tanto inusitado, apesar de meu hábito. Os fofoqueiros da firma falaram que era pão-durismo. Curioso, comecei a investigar.

Samuel era noivo. Ele e sua futura esposa frequentavam uma Igreja Evangélica onde se conheceram. A moça trabalhava próximo e pegava o mesmo Metrô e, moravam com duas ou três estações de diferença.  

Espontaneamente contou a rotina do namoro. Sábado iam ao cinema, terça e quinta discutiam a construção da casa e domingo passavam no Culto. Era que estavam construindo. O pai da moça, que não sei o nome, combinou que venderia a área do fundo, para dar responsabilidade aos dois, dizia ele. O casal com seu dinheiro construiriam a edícula onde morariam. O sogro colocaria o pessoal da Igreja e acompanharia a construção.

Ele e a noiva combinaram de dividir igualmente as despesas. Até ai estava eu achando normal, quando contaram que, nos sábados se encontravam na sala de espera do cinema, ou seja, cada um pagava seu ingresso e depois se reuniam. Daí a gozação que fazia o pessoal do escritório. Achei um tanto radical dos dois.

Posteriormente descobri que o casal ficava namorando e resolvendo problemas no Metrô, sentavam lado a lado: namoravam, faziam o calculo das despesas, resolviam problemas eventuais, tudo dentro da condução.

Perguntei a Samuel se dava tempo em uma viagem tão curta. Respondeu-me e

-A gente vai até a Estação Corinthians-Itaquera, e volta. Se não resolver segue até a Barra Funda e retorna.

Em umas duas ou três viagens fazemos tudo que é necessário e ainda namoramos.

Achei muito estranho este método desconhecido de economia, mas divisão é divisão.  Fiz uma observação:

-É! com dois bilhetes vocês namoram o tempo que quiserem. Ele respondeu,

- Certo, e não atrapalha nossa divisão.

- Dois bilhetes são bem em conta e vocês tem vale transporte.

- Certo. Cada um paga o seu e não atrapalha a conta.

- Como? Onde vocês se encontram, perguntei. Já que a firma da moça era praticamente ao lado.

- Dentro do Metrô, oras! Com a cara mais natural do mundo.

Ele dividia até o vale transporte. Fiquei espantado. Parei de prestar serviço antes de saber se casaram.



25/06/2012

Tony-poeta








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