terça-feira, 5 de junho de 2012

A SOGRA


A SOGRA




Yara entrou no carro da mãe. Era pontualmente onze e cinco da noite. Acabara de sair da aula, despedira com um beijo tímido na face de seu namorado João. Entrou no carro de Dona Ofélia e, foi para casa.

Carro era só para quem tinha dinheiro, mas muito mais que a ostentação, que a família de Yara demonstrava, tinha o controle de seu namoro com João, a quem eles achavam mais experiente. Tinha dezoito anos.

Antenor e Djalma seus colegas de classe se perguntavam:

- Precisa tudo isto? E não conseguiam entender.

Estudavam em um Ginásio noturno onde estavam misturados alunos mais velhos, retardatários nos estudos e jovens com evolução escolar normal. Este grupo, a grande maioria era de adolescentes que começavam a trabalhar com catorze anos, conforme a lei.

 Após demonstrarem que estavam realmente trabalhando e avaliados pelo Orientador Educacional eram admitidos. Formavam seus grupinhos de adolescentes responsáveis, já que trabalhavam e praticamente não ofereciam qualquer problema à escola.

Namoricos às vezes ocorriam, mas inconsequentes. O respeito dos meninos pelas meninas era muito grande. O fato de a mulher casar virgem colocava uma barreira no relacionamento, a ponto destes terem até certo receio de se aproximarem das mesmas.

As meninas, por sua vez mantinham-se distantes respeitando as regras, para não ficarem solteiras e faladas. Eram muito discretas. O ambiente dificilmente passava de amizades, sendo comuns meninos e meninas que nunca haviam namorado.

João e Yara eram vizinhos e cresceram no mesmo ambiente.

Ele, com dezoito anos trabalhava numa firma inglesa e, já era Auxiliar de Escritório. Estudando teria oportunidade de fazer uma grande carreira. Iria fazer o colegial no ano seguinte e mudaria de escola.

Ela, a tarde ajudava o tio que era dentista, era registrada como auxiliar; muito estudiosa pretendia fazer odontologia e ir trabalhar junto ao mesmo, que não tinha filhos.

O namoro os afastava de todos os grupos, eram distantes de todos. Só Neuza que sentava na cadeira ao lado conversava com ela e algumas vezes foi visita-la na residência. Dizia para os mais chegados que a mãe, Dona Ofélia namorava junto. Mesmo com ela presente a mãe e, na ausência da mesma o pai, estava visível em algum canto olhando.

A partir do terceiro ano era costume de se organizar sessões dançantes para se arrecadar fundos para a formatura. A formatura era importante e, nem todos teriam dinheiro para comparecer. Com o dinheiro se contrataria o Clube, a Orquestra e os enfeites da Igreja onde a solenidade se realizaria. As reuniões aconteciam com frequência na casa de algum aluno que tivesse espaço e, vez ou outra era alugado algum clube pequeno, quando o lucro era maior.

Dona Ofélia não perdeu nenhum destes encontros. Dizia que a socialização da filha era importante e levou o casal em todos. Ficava ela, Yara e João sentados vendo todo mundo tomar escondido seu Cuba Libre e dançar Ray Coniff. Ficavam como estátuas, enquanto os jovens aproveitavam para ter um contato um pouco mais íntimo durante a dança.

No último encontro do ano, um mês antes das férias, Yara no banheiro falou a Neuza:

- Vou mudar de escola no ano que vem.

- E para onde você vai?

- Ainda não sei. Fez uma pausa

-É que estou grávida. Vou casar.

- Você? Grávida? Como?

A conversa terminou por aí. Neuza não resistiu e, dançando contou para o Antenor, que contou para o Djalma e o Huguinho, que contaram para o resto da classe.

Até terminar o ano o assunto foi: Como João e Yara burlaram a vigilância de Dona Ofélia.






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