terça-feira, 10 de julho de 2012

A BANCA DO SEU JUQUINHA


A BANCA DO SENHOR JUQUINHA.




Duas e meia da tarde, Seu Juquinha estava saindo para almoçar e seu filho único Raí, um Corintiano fanático, daí o apelido lembrando o jogador, ficaria para tomar conta. Já tinha saído da escola e almoçado.

Era um horário de pouco movimento. O adolescente de treze anos ficava diariamente enquanto o pai corria até a residência, colocava o prato no micro ondas, Dona Lourdes já o deixava pronto, antes de ir trabalhar no escritório onde servia café. Deixava as refeições do filho e do marido já preparadas. -Era só esquentar, dizia ela.

Raí ficava tomando conta da Banca de Revista de Seu Juquinha, raramente entregava uma revista em algum cliente e recebia do pai R$ 300,00 reais, para aprender a controlar o dinheiro, e tinha que administrar. As pequenas coisas ficavam por conta do que recebia, o fazia muito bem. Colocava crédito no celular, comprava a camisa do time, sempre no camelo que era mais barato. Vez ou outra ia junto com o Ricardo, seu amigo, também corintiano ver o jogo. O Pai deste o levava. Raí pagava com seu dinheiro. Eles jogavam futebol quase toda tarde no Ginásio do Estado, onde era permitido.

À noite, o jovem com seus pais assistiam o jornal enquanto jantavam e, no horário da novela Seu Juquinha acompanhava a evolução escolar do filho. Pagava uma escola particular para que tivesse boa formação.

Naquele dia Seu Juquinha, na hora que saia para almoçar, foi abordado pelo Promotor da Infância. Havia uma denuncia de exploração de trabalho infantil. O Promotor chegou agressivo e só não o prendeu porque Dr. Cardoso, que comprava jornal e conhecia a família interveio. Mesmo assim a banca foi fechada naquele dia e, foi ao Fórum registrar a Ocorrência, para que se respondesse processo. O advogado amigo indicou um colega, logicamente com honorários, para acompanhar o caso. Raí não podia mais ajudar o pai.

Foi Mirtes quem tinha apresentado a queixa. Esta moça tinha um escritório de decorações que, pelo tipo de trabalho, que sempre tem poucos clientes, passava boa parte do tempo ociosa. O marido, de família de tradicionais comerciantes, trabalhava muito, sem tempo de se dedicar a família, que ficava por conta dela. Tinha o Rogério da mesma idade do Raí, mas pouco conhecia dos meninos da região, pois não tinha tempo e, a Kátia, de cinco anos.

Os dois filhos de Mirtes estudavam em escola de tempo integral, com atividades exaustivas: cursos de futebol, vôlei, computador com Photo shop, e assim por diante. Diariamente saiam de casa as sete, horário que passava a perua; almoçavam na escola. A mãe os pegava às dezoito e trinta. Após uma ou duas horas de trânsito carregado chegavam ao Shopping, onde jantavam com ou sem a presença do pai, sempre ocupado e, a seguir iam para o apartamento de cobertura dormir.

Mirtes era uma pessoa que queria participar de tudo que achasse importante e, se mostrar como a mais apta do bairro, coisa que fazia questão de frisar para o marido. Todo mundo falava que em qualquer solenidade importante, se não tivesse sua foto, o evento tinha sido um fracasso.

A denuncia se deveu ao fato de a socialite comprar suas revistas sempre no mesmo horário e, usar a banca do Seu Juquinha. Como só via o rapazote atendendo, chegou à conclusão que o pai o estava explorando. Em um dia, com duas parentas do interior lhe acompanhando, perguntou sem querer quanto Raí ganhava para ficar ali. Inocentemente o rapaz falou:

- Trezentos reais.  

Foi o bastante que ela e suas acompanhantes se dirigissem ao Juizado, ali próximo e fizessem a denuncia.

Dia seguinte Mirtes jantava com três amigas no Shopping, como de costume. Falava sem parar:

- Ainda bem que coloquei fim naquela pouca vergonha. Seu Juquinha colocava o filho de empregado. Onde já se viu um pai agir assim. Ainda bem que isto acabou.

Após narrar todo o ocorrido, Karen, seu amiga perguntou:

- E o Rogério, seu filho, não vai jantar?

- Hoje é terça ferira, ele não janta.

- Como?

- Ele está fazendo um curso de Mandarim.

- Mandarim?

- Sim, a nova escola de línguas iniciou um curso, sabe estes cursos para familiarizar os jovens com a língua. A China está com muito comércio, ele pode vir a precisar.

- Mas, ele concordou?

- E lá tem ele que concordar. Tem mais é que obedecer. Criança tem que fazer o que os pais acham melhor, sem este negocio de ficar com tempo ocioso, ou escravizado que nem o coitado do Raí, nunca dá certo.

No mesmo horário, Seu Juquinha pensava, sem achar solução, de como ia dar atividade para seu filho, já que este não podia mais ficar sob seus olhos.



10/07/12

Tony-poeta


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