quinta-feira, 19 de julho de 2012

O HORÓSCOPO

 

O HORÓSCOPO


Adalberto preparava-se para ir à casa de Gustavo, seu antigo Patrão. Era sábado, vestiria camisa branca, pois não sabia a cor do dia. Era um fanático por horóscopos, não saia de casa antes de escutar o horóscopo diário. Como toda previsão que se preze, dá o planeta e a cor. Ele a seguia religiosamente.
Esta convicção deu-lhe problema nas sextas feiras, já que as cores de Venus são verde e rosa. Além de não combinar com o traje de trabalho, ele achava o rosa afrescalhado. Resolveu o problema indo seguidamente sempre nas vésperas dos sábados com as camisas da Mangueira, apesar de detestar carnaval. Sábado e domingo o astrólogo não ia, portanto não sabia a cor a ser usada, usava branco por ser neutra.
Adalberto era contador formado. Já fora casado e, o casamento não deu certo, a esposa falava que ele era chato. Separou-se na mesma época que morrera seu pai. Esta ficou com um apartamento que recebeu na herança. Ficou com outro e uma casa na Praia Grande, que nunca ia; era frequentada por seus sobrinhos, que só lhe traziam as contas, sem dar nenhum tostão. Mas como olhavam a propriedade, chorava, mas pagava. Ele mesmo não tinha filhos.
Já estava aposentado, com uma boa reserva no banco. Não gastava; além do trabalho sua vida se resumia em ir de sábado aos cinemas, era cinéfilo desde a juventude e uma vez por mês ia a uma boate e saia com uma garota, sempre diferente. Não repetia, dizia: O pião monta o cavalo e a mulher monta o pião e este está fodido. No final do expediente tomava uma lata de cerveja, só uma, no Bar do Seu Justino. Ultimamente comprou uma TV a cabo com internet, estava aprendendo a usar, fora das planilhas contábeis, a qual fazia com maestria no escritório de Assessoria Contábil onde trabalhava.
Chegando a casa de Gustavo, que lhe dedicava grande respeito, por ajudar seu desmiolado filho a tocar o escritório. O rapaz gostava da noite e não tinha nenhum senso de responsabilidade. Foi ele que ajudou a orientar o rapaz a assumir o escritório e deu as orientações, para tratar aquela clientela de comerciantes, com seus livros atrapalhados, que seriam ajustados para burlar os fiscais e se possível o Imposto de Renda. O Pai já tinha desistido. Ele conseguiu.
Vagner, logicamente presente era casado com Jaqueline, a Jake. Ele não gostava dela. Para ele era uma periguete que deu certo. A moça bonitinha, já havia saído com todos os rapazes jovens do escritório, quando foi admitida. Por fim conseguiu seduzir o Patrãozinho e para seu desespero, sentava-se a mesa a seu lado, sempre procurando um motivo para atacá-lo, na esperança que o marido o mandasse embora, pois ele sabia demais sobre sua vida.
Estavam sentados, junto com mais alguns convidados, falando dos novos ajustes fiscais e tomando uísque. Ele já estava alto, quando Jake, em mais uma de suas autoafirmações falou:
- Você não entende nada. Está ultrapassado.
Foi o bastante, alto e sem a cor de camisa do dia, já a chamou de periguete e desfiou todo rosário de incriminações da vida pregressa da moça.
Despediram-no na hora, falaram que depositariam no banco o que deviam, resolveriam com outro funcionário seus ajustes contábeis, e saiu aposentado e desempregado.
Já no Domingo, estava aliviado. Realmente precisava cuidar de si. Alugaria o apartamento onde morava e mudaria para o da praia; a reserva que tinha era suficiente até o final dos seus dias. Iria comprar as roupas para usar na nova vida. Para isto, estava apanhando no Google para saber as cores dos astros do sábado e domingo. Levaria roupas para cada dia da semana. Iria ao Shopping às três horas horário que este abria.
 TONY-POETA


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