sábado, 14 de julho de 2012

O SEGURANÇA ARMADO

IMAGEM GOOGLE

 

O SEGURANÇA ARMADO



Bill estava contente em seu novo emprego. A família não o aprovara, mas, com o tempo aceitariam. Era segurança armado, responsável pelo dinheiro do pedágio da balsa. Seu pai e seu avô apesar de fanáticos por filmes de bang-bang, daí seu nome João Billi Silva Santos, não concordavam com emprego armado e arriscado.

-Bang- bang só no cinema: diziam eles. Tanto seu avô, como seu pai casou aos dezoito anos, moravam no mesmo terreno, era uma família muito unida. O fato de largar os estudos para trabalhar não agradou ninguém.

Fizera um curso de segurança: tinha estudado o colegial e praticava artes marciais; o que ajudou, apesar de sua pequena estatura, ser imediatamente aprovado. Aprendeu a atirar, seu grande sonho. No tiro de guerra que terminara há três meses, dera apenas cinco tiros; diziam que era para economizar balas.

A rotina era a seguinte: Ficava sentado em um lugar que oferecesse uma boa visão das portas e do cofre; acompanhava o malote até o carro forte, que passava em horários desencontrados para evitar assalto e, voltava a sentar.  Podia de vez em quando se deslocar até o posto de cobrança, mas não era obrigatório, apenas se notasse algo estranho.

Todo dia, pontualmente às oito horas e vinte e cinco minutos, chegava para pegar a balsa uma moça alegre, sempre teclando no telefone portátil, sorridente. Trabalhava no comércio do outro lado, morava nas redondezas. Não faltava ao trabalho estava todo dia lá. Bill a achava que era muito bonita: lembrava sua mãe. Começou a procurar saber quem era.

Pouco conseguiu, apenas que seu nome era Rosinha. A menina tinha sua turma e não andava por ali. Começou então, a ir até a cabine, coincidindo horário, para cumprimentar a moça.

Nesta rotina de dizer bom dia a Rosinha: arrumava o coldre na coxa, com o revolver em posição de saque, para qualquer necessidade, como via nos filmes, estufava o peito e saia andando. A única coisa que lhe incomodava era a camisa cor de chumbo, para ele muito feia, que o identificava. Por dois meses acenou a moça, que lhe respondia com outro aceno, sem expressão facial definida. – Afinal Rosinha estava sempre mandando mensagens. Pensava ele.

Final de julho esfriou; um bom motivo para se colocar um agasalho. Chegou à conclusão que era o dia. Colocou um blusão de couro preto, de modo a esconder a feia camisa de identificação, acertou o coldre em sua coxa, arrumou a calça preta, arfou o peito, levantou os ombros e foi de passos firmes ao local que Rosinha costumava sentar. Ela já estava sentada.

- Rosinha, disse com segurança, tenho te visto e acho que gosto de ti.

- Homem que anda armado, estou fora! Disse a moça, sem levantar os olhos e continuou a teclar.

O mundo desabou. Naquele dia queria entrar em baixo da terra.  Dia seguinte, menos abatido, chegou à conclusão que homem não desiste. Foi até a administradora. Queria mudar de função.

Foi explicado que era difícil, o segurança armado ganha um pouco mais que o restante dos trabalhadores da balsa. A lei não permite que se rebaixe o salário. Tinha apenas um cargo vago de chefe de turno noturno, mas era duzentos reais a mais do que ele ganhava e, não poderia ainda ter promoção, pelo pouco tempo de empresa.

Argumentou, argumentou novamente e finalmente, abriu mão dos duzentos reais e foi aceito no cargo de chefe de turno, noturno.

A embarcação durante a temporada tem algum movimento na noite, fora esta, praticamente não há o que transportar. Um a dois carros por viagem. Um emprego monótono e sonolento, sem serviço e o mar em total escuridão em volta. O horário era das 22 às 6 horas.

A família imediatamente o matriculou num cursinho à tarde. Ficaram satisfeitos com a mudança. Iria poupar algum dinheiro para ajudar a custear a faculdade e, tiraria o coldre e o trinta e oito das coxas.

Toda manhã, Bill na ultima viagem do plantão, via as garças e os mergulhões começarem sua algazarra no mar; os pássaros fazerem seu hino matinal e os esquilos, que aparecem em grande quantidade, ficarem serelepeando nas árvores em grande alegria.

Rosinha ele nunca mais viu, nem de relance.



14/07/12

Tony-poeta

-


Um comentário: