terça-feira, 24 de julho de 2012

SEXO E DITADURA

 

SEXO E DITADURA


João estava com Maria e um grupo de amigos tomando chopp. Frequentava um bar: O Carcará. Quase todo final de semana; pelo menos quando ele vinha a São Paulo encontrar com Maria. Ele estudava engenharia em São Carlos, ela funcionária de uma grande empresa.
Os dois, emancipados, lá se encontravam, bebiam com os amigos e por fim ia a um hotel passar o resto da noite. Maria morando em um pensionato não podia chegar de madrugada.
Saíram da mesa pelas três horas. Uma noite quente de novembro de 1968. Dirigiram-se ao Hotel Brigadeiro, onde costumavam ficar.  Foram a pé como de costume. Ficava entre a Rua Tutoia onde estavam e a Avenida Paulista, era o meio do caminho, uma subida de 45°; os dois estavam habituados a andar.
Lá chegando foram informados que não poderiam passar a noite. Tinha havido uma batida pela segurança pública e, por uns dias não se arriscariam a curta permanência, por medo de serem fechados. Só podiam se hospedar casais com certidão comprovando. Perceberam que o local encontrava-se vazio. 
O recepcionista que já os conhecia, indicou outro estabelecimento na Rua Bela Cintra, que estaria sem problemas. Esta rua saia da Av. Paulista. O Hotel ficava duas quadras abaixo, descendo à direita.  Não havia muita opção, tudo estava fechado. Foram andando, apesar da distância de aproximadamente treze quarteirões: - Era bom para baixar o chope, foi à conclusão final do casal.
Já no Hotel, às quatro e meia da manhã, foi solicitado documentos. Foram Informados que os mesmos ficariam retidos na portaria, por precaução.  João, acostumado à vigilância da ditadura, onde toda semana, ao chegar à casa de seus pais onde morava, o zelador preenchia uma ficha de permanência, seguindo a ordem da Secretária de Segurança. Deixou a documentação. Desconfiado, mas deixou.
O Estabelecimento estava instalado em um antigo palacete da época do café. A portaria, acessível pela lateral ficava sob a escada. Todos os cômodos foram transformados em vários quartos. Aparentemente o andar térreo era mais confortável e melhor decorado.
A curta permanência, onde ficariam, era sofrível. Os quartos eram divididos por compensados em quartos menores, com espaço suficiente para uma cama de casal, dois criados mudos e um guarda roupa, sem nenhuma combinação, parecendo móveis comprados em lojas de usados. A janela foi dividida entre os quartos, ficando no cubículo, onde se instalaram, apenas uma fresta de 30 centímetros. A iluminação do local era bastante fraca.
Após inspecionarem a espelunca onde foram parar, preparavam-se para deitar quando ouviram barulho sugerindo uma batida policial. Chegaram à conclusão que era melhor apagar a luz e ficarem quietos.
Parecia que os policiais investigavam todos quartos sem registro, arrombaram uma porta, sempre aos berros e com toda truculência, sem se importar com os outros hospedes. Perceberam que três ou quatro casais foram presos para averiguação.
Por fim o ambiente se aquietou. Na fresta de janela entrava uma luz, estava amanhecendo. Ficaram por mais meia hora e saíram.
Maria pegou um taxi e foi para o pensionato onde morava. João saiu a pé, retornando no mesmo caminho, morava próximo ao Carcará.  Indignado pensava se toda esta ação protegia da falta de liberdade dos comunistas ou era apenas uma cópia mal feita.

24/07/12
Tony-poeta
Os nomes são fictícios, a história real.


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