terça-feira, 28 de agosto de 2012

A AZALEIA


A AZALEIA

 

A casa servia para um consultório médico odontológico. Eram três quartos que poderiam ser modificados em salas de consulta; uma sala-copa ampla, adequada para uma sala de espera e aos fundos uma dependência para empregados de três cômodos, que podia ser transformada em sala de curativos, dispensa e despejo. Tudo muito adequado.

A casa estava fechada há algum tempo, sem pintura e, com reparos a fazer; além disso, estava abaixo da linha do trem. Na época existia um tabu em todas as cidades interioranas, como a do imóvel, que nada vingava abaixo dos trilhos. Ponderando que era inicio de carreira na cidade, e que apesar de alto para residência, era um valor razoável para uma clinica, em termos de aluguel, dois médicos e um dentista alugaram o imóvel, cujo proprietário tinha se mudado para São Paulo, quando fechara o imóvel e colocara a placa Aluga-se.

Foram feitas as reformas, trocada fiação, pintura, chamado um jardineiro, já que a frente tinha um espaço para jardinagem de vinte metros quadrados. Colocada a placa e iniciou-se a clinica. O resultado foi ótimo e a clinica ficou cheia; tudo estava até acima do programado.

Perto do final do contrato, no horário de atendimento, um oficial de justiça chega com uma intimação. Todos profissionais ficaram assustados. Era uma intimação via cartório que o contrato não seria reformado, pois o senhorio voltaria a morar na cidade.

Ficaram todos revoltados, tentaram falar com o dono do imóvel, para fazer queixa da maneira agressiva de comunicação, nunca atrasaram um aluguel ou imposto. Não conseguiram.

Já pensando em procurar outro local, estavam atendendo, quando novamente, com a sala de espera lotada, apareceu novamente o oficial de justiça com outra intimação, via cartório.

Desta feita era para oferecer o imóvel, já que o locatário alegava que tinha um comprador. Pela lei, o contrato só poderia ser rompido se fosse para uso próprio do senhorio, ou caso existisse um comprador e, os atuais inquilinos não cobrissem a proposta de compra do outro proponente.

Verificaram o valor proposto e, estava acima do mercado. Estavam pensando em fazer uma contra proposta para resolver o assunto, já que não conseguiam falar com o proprietário, quando novamente chegou o oficial de justiça com outra intimação, cobrando urgência da resposta. Também no horário de movimento. Desistiram de comprar ou tentar refazer o contrato, estavam justamente indignados.

Cada um foi se arrumar em um lugar. Dr. José, o dentista, alugou uma casa ao lado, onde moraria com a esposa e colocaria o consultório na frente. Os médicos, cada um se ajeitaram em outra clinica. O dentista foi o primeiro a sair, enquanto mudava apareceu um advogado. Queria que devolvessem a casa pintada. Consultaram o Escritório e mediante as condições que pegaram o imóvel, a solicitação era descabida. O próprio escritório, que fazia a escrita encarregou-se de desfazer a exigência absurda.

Como a casa de Dr. José também tinha espaço para jardim e, o jardim pertencia a clinica, concordaram em que se mudassem as plantas para a casa ao lado. Assim foi feito.

Dia seguinte, novamente veio o advogado. Alegava que a azaleia pertencia à dona Henriqueta esposa do proprietário e, despejou mil ameaças.

Como o jardineiro ainda estivesse trabalhando, a planta foi devolvida ao mesmo lugar de onde tinha sido retirada.

A casa, onde fora a clinica, ficou fechada após a mudança dos profissionais. Era verão e não chovia e, a azaleia secou por falta de água.

 

28/08/12

Tony-poeta

 

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