quinta-feira, 2 de agosto de 2012

RAIVA

                                               

 A RAIVA


- Dona Judite, Pode entrar; boa tarde. Era uma das ultimas consultas do dia do Dr. Mauro. Todos doentes em acompanhamento, normalmente para repetir o remédio, salvo ocorrências imprevistas.
- Boa tarde, Doutor.
- Como está a senhora?
- Vim pedir um calmante mais forte. Este está muito fraco.
O médico olha a ficha e argumenta.
- O calmante costuma ser suficiente, o que está ocorrendo?
- Estou com raiva.
- Não temos medicação especifica para raiva. O que houve?
- A raiva é tanta que até briguei com meus filhos.
- Quando foi isso?
- Ontem.
- Moram com a senhora?
- Não, moram fora.
- Bem Dona Judite, a raiva é um sentimento; é normal sentir raiva, quem não a sente está adoentado. A senhora sentiu este afeto, extravazou e agora na próxima conversa com seus filhos vai ficar tudo bem.
-- Mas a raiva ainda não passou.
- Passa! Disse Dr. Mauro, mas o que está acontecendo para a senhora ficar tão nervosa.
- Eles não assinam para vender o terreno.
- De quem é o terreno?
- Meu marido deixou de herança. O terreno e a casa onde moro. Preciso do dinheiro.
- Realmente, numa herança metade é da senhora.
- Eles não querem assinar. Que ingratos e tratei deles a vida toda, meu marido sempre tirou o corpo fora.
- Quando morreu seu marido?
- Há dois anos, foi um alivio, não servia para nada, agora estou muito bem.
- Tem netos?
- Seis, mas dizem que sou tramista, as noras nunca os trazem para ficar comigo.
- Mas a senhora manipula?
- Elas são iguais a meu marido, não fazem nada direito. Ainda querem o dinheiro do terreno.
- Quanto vale a propriedade Dona Judite?
- Tem um moço que dá quarenta mil.
- Então a metade é vinte mil. A senhora disse que são cinco filhos. Dá quatro mil para cada um. É pouco, mas ajuda. Por que eles não assinam?
- É que não querem pagar a conta.
- Que conta?
- A doença do pai,
-Mas não morreu há dois anos.
- Morreu, mas paguei os remédios, o enterro o seguro pagou, mas paguei as flores, o inventário e mais uma porção de despesas que tenho marcadas.
- Quanto dá isso tudo?
- Só a doença e o enterro dão dez mil, mas...
- Assim não sobra nada para eles, disse o médico.
Ela pensou, pensou e a seguir argumentou:
- Mas os filhos não ajudam os pais?
- Hoje em dia não é comum, disse Dr. Mauro, os pais cuidam e quando eles conseguem se manter vão embora sem nenhum compromisso.
- Quer dizer que os pais ficam com obrigação um tempão. Até que idade eles ficam dependentes?
- Olha, disse o Dr. Sorrindo, tem clientes meus que ficam assim até os pais morrerem.
Dona Judite pensou e retrucou
- O Senhor é muito calmo.
- A gente aprende dona Judite
- Sabe doutor passou a raiva. Vou conversar com eles.
- Ótimo, vou fazer sua receita.
- Qual remédio? Perguntou ela.
- O que a senhora está tomando no tratamento.
- Tem que ser o mais forte doutor.
-Por que Dona Judite?
- O Sr que disse que não ter raiva é estar adoentado. Estou sem raiva.
- Pega a receita, acabou seu tempo.
- O Senhor é igual meu marido. Ele nunca terminava uma conversa, e saiu da sala.

02/08/12
Tony-poeta.


-


-

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário