quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A GRUTA DE BRANDONÓPOLIS

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A GRUTA DE BRANDONÓPOLIS


 

 

Helder visitava a propriedade de Jovelino Brandão, foi a contragosto. O Geólogo tinha que fazer o levantamento do pequeno Município de Brandonópolis; o engenheiro agrônomo já havia passado e não encontrara lugar apropriado para fazer uma lavoura.

Toda área que compreendia Brandonópolis era de encosta com pedras, eram muitas pedras; em poucos lugares dava para fazer um pequeno roçado. Na área quase total do Município, além de mato, tinha algum capim nas encostas onde o gado subia com dificuldade; muito espinheiro que era aproveitado para criar cabras. Era a economia da cidade, com a venda de carne caprina na Pascoa e Final de ano e, um mirrado fornecimento de leite dos caprinos para confecção de queijo. Tudo era pobre no local, menos o Brandão.

Doutor Brandão, como era chamado, era da família de desbravadores do local, e se julgava dono de tudo, apesar de outros sitiantes estarem legalmente estabelecidos no distrito. Por muitas gestões foi alternadamente com o pai, prefeito da região, até que Brasília mandou fiscalização para ver o emprego de verbas federais.  Além de repor o desvio apurado, o mesmo foi cassado politicamente por três anos e seu filho Eduardo por oito, ficando sem candidato da família. Perderam a prefeitura para o Professor Rogério, da oposição que não teve nem duzentos votos.

A suspensão do Doutor Brandão ia acabar neste ano, queria se candidatar, apesar de estar próximo dos oitenta anos, já que seu neto era muito novo e, seu filho tinha mais cinco anos de espera.

O Professor Rogério, com verbas que arrumou em Brasília estava bem. Até os vereadores, que eram meio parentes dos Brandão, davam todo apoio. O ex-prefeito ficou com fama do Rei dos Ladrões, ninguém entendia como conseguira roubara tanto de um lugar tão pobre. Por enquanto tinha que dedicar-se a suas terras. Escutava, atento as recomendações do Geólogo Helder.

Foi dado o veredicto: - Pouco tem a se fazer, podemos conseguir aumentar um pouco as cabeças de boi e cabra, não dá para fazer agricultura. Só tem pedra e rocha, e uns buracos que não são nem cavernas. Não é agricultável, falou Helder.

- Gruta tem uma ali, falou Brandão apontando o dedo, é lá que Preguiçoso, o burrico se esconde quando não quer trabalhar.

Helder, curioso com cavernas, na verdade apaixonado pelas mesmas, se dispôs a ver a tal gruta do burrico fujão.

No fim de uma descida íngreme estava lá, uma pequena gruta, banhada por um mínimo filete de água. Examinou-a atentamente, por fim falou:

- Realmente, é uma caverna em formação, a água está entrando entre dois maciços de rocha e deve estar formando uma sala mais abaixo. Mais uns cem anos deve aparecer, é só a água remover os detritos.

- Não dá para apressar? Falou Brandão.

- Não, a gente nunca apressa a natureza, por enquanto fica só a caverninha, daqui a algumas gerações teremos a primeira sala, que acho que está quase pronta.

Brandão deu um sorriso. Acabara de imaginar como iria voltar a politica. Chegou em casa gritando:

- Vou inaugurar a caverna!

- Tá é doido pai!

- Tô, não! E não falou mais nada como era seu costume.

Começou a se interessar por reflorestamento, pelo impacto ambiental; protegeu a entrada da gruta, proibiu de mexer com os animais silvestres, era proibido até espantar passarinho. Protegeu a nascente do filete de água que ia a gruta e colocou uma placa com dizeres: Rio do Brandão. Fez uma escada com pedras, rústica para proteção e acesso ao local transformado em quase sagrado.

Voltou da Capital todo contente, trazia a placa de inauguração, garantiram que durava séculos.

Começou a explicar para a família, até então não falara nada:

- Os autofalantes do Campo de futebol, vão ser inaugurados na benção da Caverna.

- Benção? Perguntou Gustavo, seu filho, o padre é nosso inimigo.

- Ainda é. Mas os bancos da capela:- foi seu vô que deu quando inauguraram, estavam cheio de pregos e remendos; dei bancos novos e o frei disse que o Padroeiro Santo André ia entender.

- Mas quem vai falar? Perguntou Junior.

- Oras bolas; o Tonico radialista.

-Como?

- Vive na pendura, a rádio não dá nada. Comprei o horário e, pelo bem da família vai falar, o Partido me deu o texto. É só ler. Coitado! Não tinha saída.

- Vocês arrumam a melhor roupa que todos vamos à missa, a cidade tem que saber que somos religiosos.

Feita a inauguração, com foguetório, no sermão final da missa, o Padre perguntou:

- Porque a placa tinha quatro línguas?

- Com reverencia ao local sagrado, Brandão explicou:

-Segurança, senhor padre. Se o Rio ficar muito grande com os cuidados que tomei, mesmo daqui a 500 anos vão saber que fui eu quem protegia natureza. Em qualquer língua, que nem aquela pedra de roseta que tinha no Egito.

Saiu sorrindo da missa e conversando com tudo mundo. Tinha começado a campanha política.

 

17/10/12

Tony-poeta

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Bravo!!!!
    Que lindo e tão gostoso de ler, amei muito!
    Você consegue sempre ser perfeito!
    Parabéns, minha admiração aumentou!

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