ADROALDO E A CAMPANHA POLÍTICA
Está se encerrando mais uma campanha politica, com uma
saturação de propaganda, em rádios, TV, impressos e carros de som irritantes.
Creio que há exagero. Veio em minha memória a história de Adroaldo, que meu pai
contava.
As eleições nos anos 50 eram difíceis para os candidatos.
Quando muito conseguiam colocar uma faixa na frente das casas que o apoiavam.
Não havia outros meios de comunicação.
A votação era feita com cédulas. Um sistema bem complicado.
O eleitor levava a cédula, um papel impresso, com o nome do escolhido para o
voto, não havia padronização. A seguir ia atrás do biombo e colocava num envelope,
depois na urna.
A apuração era feita
pela contagem dos papeis, ou seja, das cédulas. A zona Eleitoral tinha por obrigação
oferecer o impresso correspondente de cada candidato, conforme fosse exigido; para
tanto era colocada sobre uma mesa uma montanha de papeis, e cada eleitor que procurasse
o escolhido.
Como era difícil de encontrar esta cédula na hora da
eleição, era permitido que fosse levada pelo eleitor. Cada candidato começou a posicionar uma
mesinha, composta de dois cavaletes e uma tabua apoiada sobre estes, igual às
de camelo atuais, mas de pequeno tamanho. Disputavam então um lugar perto do local
de votação, para fornecimento das cédulas. O que gerava intenso bate-boca e
brigas. Quem ficava de plantão, no caso dos candidatos de menor posse, era a
família e os amigos. Provavelmente foi a origem da boca de urna.
Adroaldo morava pelos lados da Rua Jose Maria Lisboa, no
Jardim Paulista, próximo a Rua Pamplona, onde passava o bonde 40 Jardim
Paulista. Era dono de um escritório de contabilidade no Centro da cidade, tinha
tempo para se dedicar a campanha.
Muito minucioso organizou a campanha da seguinte forma: Comprou
dois jogos de camisas de futebol, para doar a dois times de várzea da
redondeza. Duas bolas de capotão, que eram importadas, bem caras. Estas bolas
eram cheias com uma bomba através do bigolim, muito cobiçadas pelos times, e as
ofereceu a dois outros times.
Fez um horário de visitas politicas a seus clientes, onde
com uma pasta levava as cédulas de votação e pedia colaboração, inclusive na incipiente
boca de urna.
Fora isto, programou as visitas as Igrejas: se mostraria
religioso, o que era bem visto para época. Programou três igrejas por dia, onde
ficaria rezando por 20 minutos em cada uma.
Para completar, resolveu que chegaria a sua casa de taxi. No
ano 50, poucas pessoas tinham veiculo próprio, o que era seu caso. Mas andar de
bonde, apesar de trafegar vazio e com razoável conforto, o deixaria diminuído
diante da vizinhança: - Afinal seria um vereador.
Por economia, organizou que desceria do bonde na Alameda
Jau, menos de um quilometro de onde morava, pegaria o taxi e com ele chegaria a
sua casa.
Começou a campanha. O ponto de taxi ficava em frente ao
armazém do Seu Joaquim e tinha cinco carros. Os motoristas ficavam fofocando,
ora tomando café, ora jogando palitinhos, o movimento costumava ser pequeno. Percebendo
a malandragem do candidato, este passou a ser o motivo da fofoca e gozação, que
logo se espalhou nas redondezas e chegou à rua onde morava. Mas Adroaldo, tão
compenetrado em sua programação, não percebeu e continuou fazendo igual.
Pior de tudo foi a reza. Com uns 50 anos, ficar ajoelhado
todo o tempo que programara começou a formar feridas nos dois joelhos. A
família tentou fazê-lo desistir desta parte da estratégia, mas alegando que a
religiosidade traz muitos votos, não desistiu. Pela manhã fazia o doloroso
curativo, passava agua oxigenada; a seguir tintura de iodo e depois enfaixava
ambos os joelhos, com bastantes faixas para amortecer um pouco e, permitir,
mesmo com dor, que ficasse ajoelhado.
Feita a eleição, teve uma votação irrisória, apesar do
enorme gasto, para um pequeno dono de escritório. Ficou desolado, lamentando o
dinheiro perdido inutilmente.
Dois dias depois, foi acometido de alta febre devido às
feridas nos joelhos, que foi seguida de uma infecção generalizada e, Adroaldo
morreu.
06/10/12
Tony-poeta
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