sábado, 6 de outubro de 2012

adroaldo e a campanha política


ADROALDO E A CAMPANHA POLÍTICA


 

Está se encerrando mais uma campanha politica, com uma saturação de propaganda, em rádios, TV, impressos e carros de som irritantes. Creio que há exagero. Veio em minha memória a história de Adroaldo, que meu pai contava.

As eleições nos anos 50 eram difíceis para os candidatos. Quando muito conseguiam colocar uma faixa na frente das casas que o apoiavam. Não havia outros meios de comunicação.

A votação era feita com cédulas. Um sistema bem complicado. O eleitor levava a cédula, um papel impresso, com o nome do escolhido para o voto, não havia padronização. A seguir ia atrás do biombo e colocava num envelope, depois na urna.

 A apuração era feita pela contagem dos papeis, ou seja, das cédulas. A zona Eleitoral tinha por obrigação oferecer o impresso correspondente de cada candidato, conforme fosse exigido; para tanto era colocada sobre uma mesa uma montanha de papeis, e cada eleitor que procurasse o escolhido.

Como era difícil de encontrar esta cédula na hora da eleição, era permitido que fosse levada pelo eleitor.  Cada candidato começou a posicionar uma mesinha, composta de dois cavaletes e uma tabua apoiada sobre estes, igual às de camelo atuais, mas de pequeno tamanho. Disputavam então um lugar perto do local de votação, para fornecimento das cédulas. O que gerava intenso bate-boca e brigas. Quem ficava de plantão, no caso dos candidatos de menor posse, era a família e os amigos. Provavelmente foi a origem da boca de urna.  

Adroaldo morava pelos lados da Rua Jose Maria Lisboa, no Jardim Paulista, próximo a Rua Pamplona, onde passava o bonde 40 Jardim Paulista. Era dono de um escritório de contabilidade no Centro da cidade, tinha tempo para se dedicar a campanha.

Muito minucioso organizou a campanha da seguinte forma: Comprou dois jogos de camisas de futebol, para doar a dois times de várzea da redondeza. Duas bolas de capotão, que eram importadas, bem caras. Estas bolas eram cheias com uma bomba através do bigolim, muito cobiçadas pelos times, e as ofereceu a dois outros times.

Fez um horário de visitas politicas a seus clientes, onde com uma pasta levava as cédulas de votação e pedia colaboração, inclusive na incipiente boca de urna.

Fora isto, programou as visitas as Igrejas: se mostraria religioso, o que era bem visto para época. Programou três igrejas por dia, onde ficaria rezando por 20 minutos em cada uma.

Para completar, resolveu que chegaria a sua casa de taxi. No ano 50, poucas pessoas tinham veiculo próprio, o que era seu caso. Mas andar de bonde, apesar de trafegar vazio e com razoável conforto, o deixaria diminuído diante da vizinhança: - Afinal seria um vereador.

Por economia, organizou que desceria do bonde na Alameda Jau, menos de um quilometro de onde morava, pegaria o taxi e com ele chegaria a sua casa.

Começou a campanha. O ponto de taxi ficava em frente ao armazém do Seu Joaquim e tinha cinco carros. Os motoristas ficavam fofocando, ora tomando café, ora jogando palitinhos, o movimento costumava ser pequeno. Percebendo a malandragem do candidato, este passou a ser o motivo da fofoca e gozação, que logo se espalhou nas redondezas e chegou à rua onde morava. Mas Adroaldo, tão compenetrado em sua programação, não percebeu e continuou fazendo igual.

Pior de tudo foi a reza. Com uns 50 anos, ficar ajoelhado todo o tempo que programara começou a formar feridas nos dois joelhos. A família tentou fazê-lo desistir desta parte da estratégia, mas alegando que a religiosidade traz muitos votos, não desistiu. Pela manhã fazia o doloroso curativo, passava agua oxigenada; a seguir tintura de iodo e depois enfaixava ambos os joelhos, com bastantes faixas para amortecer um pouco e, permitir, mesmo com dor, que ficasse ajoelhado.

Feita a eleição, teve uma votação irrisória, apesar do enorme gasto, para um pequeno dono de escritório. Ficou desolado, lamentando o dinheiro perdido inutilmente.

Dois dias depois, foi acometido de alta febre devido às feridas nos joelhos, que foi seguida de uma infecção generalizada e, Adroaldo morreu.

 

06/10/12

Tony-poeta

 

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