terça-feira, 23 de outubro de 2012

ARARAS

imagem google

ARARAS


 

Vi passar pela minha janela duas aves grandes. Pelo tipo de voo e formação notei que se tratava de um casal de araras. Estava no lusco-fusco, não dava para ver nada além do cinza da sombra que se formava no anteparo do sol. Mas quase com certeza tratava-se de araras. Pensei em tirar uma foto para ver melhor, mas a máquina não estava ao alcance das mãos.

O litoral Norte de São Paulo que se inicia no Guarujá é rico em Mata Atlântica, logo a presença das aves é possível, mas elas nunca se expõem. Pensei melhor e deduzi que pouco melhoraria minha visão numa foto contra o sol. Não veria as cores. Mas: Por que a documentação, se minha palavra basta? Na verdade não queria documentar, queria possuir. Tentamos possuir tudo que vemos, até uma foto satisfaz nosso desejo de posse.

Nos anos 60, o existencialismo era a conversa corrente da juventude. Todo mundo se referia a Sartre, mesmo sem conhecer nada dele. O filósofo dizia que o homem existe e vai projetar sua existência; ou seja, ele se faz.  Este movimento é feito a custa de dominação, ele tenta possuir, portanto dominar uma sociedade que já se encontra pronta. Neste jogo de dominação, creio eu, além de tentar possuir o outro ser humano, sempre de acordo com o filósofo, tenta também dominar as coisas. Este é o desejo de, pelo menos em foto, ter as duas araras. Seguia meu impulso de dominação:- Como não posso pegar, fotografo.

Vivemos como num jogo do antigo Atari. Um elemento numular com boca parte comendo o que se apresenta pela frente. Quanto mais difícil à tarefa mais forte ele fica. Tem hora que pode se associar para seu objetivo, na hora que perde, se enfraquece e tem que vencer mais obstáculos.  Come até o objetivo final que é a glória; este para nós é a morte.

Desde que nascemos estamos a buscar objetos novos; uma vez conseguidos estes se tornam menos interessantes, ou descartáveis, conforme o grau de afeto impregnado, obrigando sempre a partida para outro alvo. A sociedade de consumo se baseia neste desejo, não foi ela que o inventou.

Como a natureza está em um grau inaceitável de destruição, creio que temos de buscar objetos não degradantes ao meio, para satisfazer nosso impulso de dominação. Já que o sistema tenta através da oferta excessiva nos dominar e, não vai reprimir o lucro, que é o objetivo de dominação que o Capital se propõe.

Tento particularmente fazer este movimento, analisando os objetos que vou adquirir e, quando o impulso de compras se torna muito grande, o engano indo a uma loja de R$ 1,99 e comprando qualquer bugiganga para acalmar este instinto. Tem dado resultado, apesar de que ainda queria ter tirado a fotografia.

 

23/10/12

Tony-poeta

Nenhum comentário:

Postar um comentário