CONTATO COM A NATUREZA
Meus filhos eram pequenos, estava na casa de Dona Maria,
minha sogra. A casa tinha um corredor que ia do portão ao quintal. A entrada na
sala e, o acesso na área de serviço era feito pela direita. Este corredor era
todo cimentado, havendo apenas pequena área verde no quintal, cerca de quatro
metros quadrados. Próximo à residência
havia uma chácara, o restante eram ruas asfaltadas.
A casa de minha sogra era pobre em verde. Nesta pequena área
de terra havia um pé de limão cravo e quatro antúrios. Na frente apenas dois
arbustos e o restante garagem asfaltada, e apenas, na rua uma árvore, sempre
florida, chamada Pata de Vaca, que se dizia boa para diabetes, e meu sogro volta
e meia fazia chá. Tentei convence-los a plantar hera nos muros, mas não foi
aceito, pois alegaram que acumulava aranhas, formigas e lagartixas.
Uma pequena cobra coral, próximo de vinte centímetros, com
lindas cores passava no corredor, exatamente na hora que eu saia. A me ver
começou a se arrastar depressa, em rota de fuga. Não tive duvidas, matei-a,
pensando que podia haver um acidente com meus filhos. Nem me preocupei em
verificar se era verdadeira ou falsa. Fui elogiado pela família, mesmo mostrando-me
arrependido, além de não ver se tinha ou não veneno, podia perfeitamente, dado
o tamanho, ter capturado e tê-la devolvido ao mato, ao que me chamaram de
louco.
Atualmente moro em apartamento, que a área verde foi
programada por paisagistas, o grande terreno que me empolgou para adquirir o
imóvel, onde garças, quero-quero e outros animais frequentavam foi transformado
em cimento.
Nos raros terrenos ainda não construídos que sobraram, tenho
como habitantes um casal de beija-flor verde, minha corruíra e raramente um
bando de Papa Capim de bico vermelho, que ficam algum tempo balançando e logo
se retiram.
Mas tenho meu cão Lacan que além de amigo, foi o único
contato com a natureza que me restou. Ainda tenho sentimento de culpa, matei a
pobre coral que fugia sabiamente do predador homem. Os outros humanos, que nem
eu, estão matando o restante.
02/10/2012
Tony-poeta
Maktub.
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