segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DONA LINDA


DONA LINDA


 

Irmão John foi chamado às pressas. Havia se formado um tumulto a porta do Paraiso, chegara Dona Linda. Ele juntamente com o pequeno grupo de empresários, tinha conseguido chegar ao céu e terceirizado o serviço de portaria, nunca imaginara que haveria tumulto a sua porta; afinal: todos se alegram de ir ao premio maior de uma vida virtuosa.

- Onde estão as senhas?

- Porque não se formam filas?

- Como sei que não vai passar ninguém na minha frente?

- Este negócio parece a fila do Convenio.

Todas as indagações eram feitas por Dona Linda, que reclamava sem parar. John pediu a retrospectiva de vida da nova escolhida.

Deolinda Silva Silva, a Reclamona. Também chamada de Linda. Uma pessoa de índole boa com o defeito de reclamar de tudo.  Fora reclamar, nunca prejudicou ninguém, João seu marido, apesar de pouco conversar, a esposa o inibia, teve todo o cuidado e carinho nos seus dois anos de câncer. Reclamava, sim. Mas não deixava faltar nada.

Seus filhos, mesmo morando longe e não telefonando, todo dia 10 vinham pedir um auxilio e, Linda tirava da aposentadoria e ajudava a família. Os vizinhos só lembravam-se dela quando precisavam de alguma coisa e ela sempre atendia. Tinha suas falhas, mas as virtudes suplantavam. Tirou a nota mínima.

John que já foi recebido com criticas a sua demora. Pensou bem, olhou a nota mínima. Olhou o Manual de admissão, que ele mesmo fizera: “Todo novo interno que potencialmente prejudicar o repouso dos justos não deverá ser admitido.”.

Mandou Dona Linda para o Inferno.

O Inferno era infernal. Todos tentavam retardar a entrada e permanecer na porta para não receber os castigos, que, aliás, não eram tão pavorosos. Iam para o fim da fila, argumentavam e saiam da ordem. O responsável gritava; ninguém ouvia. A Senhora, tentou reclamar e não conseguiu. Foi direto ao Porteiro:

- Quero falar com o responsável.

- O Diabo, que olhava ao lado com caras de poucos amigos, respondeu:- o que é?

- é um absurdo! Um órgão que se propõe a ser eterno tão desorganizado. Falta qualquer senso de ordem, nem o Inferno pode se manter com tanta bagunça e, começou a falar sem parar de cada um dos defeitos encontrados.  O diabo olhava com espanto. Pediu a ficha da nova interna com ele ainda falando, viu a nota. Pegou-a pela mão e a levou de volta ao Céu.

- Não é minha. Falou ao empresário.

- Temos um trato, lembra? Respondeu este. Todos aqueles que potencialmente perturbarem o sossego pela eternidade são teus.

- Mas combinamos um limite. O admitido não pode piorar a pena de meus internos e uma reclamona certamente vai o fazer.

Um olhou para o outro, havia um impasse. O que fazer com Dona Linda.

Um anjo que passava arriscou:

- Porque não o Purgatório.

- Temos um trato, respondeu o empresário do Céu, abrandamos o purgatório, pois o Inferno, com tanta gente na Terra, está em excesso de lotação e não é justo.

Dona Linda olhou a porta do purgatório. A bagunça era pior que a do Céu e do Inferno.

- E naquela desorganização que querem me levar, não vejo ninguém arrumando a fila.

- Não tem porteiro, respondeu o Diabo.

- Que absurdo, se quiserem fico de porteiro e dou o sermão de entrada em todos aqueles mal educados da porta.

O Administrador do céu olhou para o diabo. Deram um sorriso e Dona Linda ficou em definitivo admitindo e dando o sermão inicial do Purgatório reclamando dos erros de cada um que chegava.

 

29/10/2012

Tony-poeta

 

 

 

 

 

 

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