sábado, 10 de novembro de 2012

O FOGÃO E O PECADO


O FOGÃO E O PECADO.


 

 

O fogão desabou na cozinha, caíram os pés e a chapa de suporte também, foi a maresia que provocou ferrugem.  Era um fogão relativamente novo, uns sete anos de uso, estando o forno e os queimadores em perfeito estado.

A solução foi comprar outro novo e, descartar o velho que já não parava em pé. Um funcionário do edifício pediu para aproveitar as peças e foi concedido, obviamente.

Algumas horas depois este perguntou onde estava um pé que faltava. Olhei no lixo onde havia jogado as embalagens do fogão novo e lá estava o pé velho. Entreguei, foi quando me falou que o Marquinhos ficaria com o fogão descartado. Vidal, assim se chama o funcionário, muito jeitoso soldou uma folha de alumínio e refez o eletrodoméstico. Com uma pintura ficaria em condições de usar, mesmo que a pintura ficasse com discreta mancha na cor.

Chamou-me atenção, o fato de funcionários de condomínio ter ganhos compatíveis com a classe C no mercado de consumo. Oras mesmo sendo eles do nível baixo desta classe, é a mesma classificação que tenho, com nível alto. Eles enquadram-se na Classe C baixa e eu na alta. Pareceu-me contraditório duas famílias da mesma classe, ter uma que descarta e outra que aproveita os objetos quebrados. Esta é a rotina que vem acontecendo regularmente. Fui pesquisar:

A classe A e B no país representam 15,5% da população. Tem hábito de consumo exagerado, isto fazendo uma generalização. A Classe D e E tem 32,5% da tabela e estão praticamente alijadas do mercado de consumo. Restam 52% onde pequena parcela a que pertenço tem hábitos próximos da classe B responsável pelo  exagero, com não aproveitamento de quase nada. Portanto aproximando um quinto da população. Realmente uma pequena parcela que consome em exagero.

A classe C media e baixa também tem excesso de consumo, mas se restringe mais a apresentação pessoal e pequena parcela em eletroeletrônicos, carros [aqui andam de bicicleta pela topografia] e mobília. O que move tudo é a propaganda estimulando o desejo e a competição social.

Este estimulo ao desejo sempre foi combatido na história da humanidade. No Velho testamento temos o Bezerro de ouro, onde Moisés matou os adoradores e também como exemplo o Rei Midas que teve que negociar e devolver a graça que ele indevidamente pediu, senão morreria a mingua.

Aristóteles combateu o desejo e, Sidarta Gautama, o Buda fez do controle do desejo todos seus ensinamentos. Na era Cristã, seguindo a filosofia grega, o desejo excessivo foi considerado pecado pela igreja.  Santo Agostinho dedicou-lhe especial atenção.  Este controle foi mantido até recentemente quando principalmente o Neoliberalismo de forma abusiva o transgrediu e os Sete Pecados Capitais ficaram esquecidos num canto. Mas o que são estes pecados?

O primeiro é a Gula, [demônio Belzebu] é o excesso de alimentação. Facilmente visível com o estatus dado ao modo de comer, onde receitas modernas, com ingredientes importados e muitas vezes desconhecidos substituíram o caderno de receitas da família com aproveitamento da melhor forma dos produtos locais. Sofisticou-se a alimentação.

A avareza, ou o desequilíbrio de ter, demônio Mammon, tem tudo a ver com que estamos observando. A seguir a Luxuriam demônio Asmodeu condena o excesso de prazer sexual e material, atitudes frequentes atualmente.  Depois temos a Inveja, demônio Leviatã que além do desejo, faz parte da baixa estima e da depressão, doença muito atual e epidêmica. E por fim a Vaidade, cujo demônio é Lúcifer que Santo Agostinho considerava a mais importante, separando-a da Soberba. Talvez seja a mais estimulada pelos meios de comunicação no mundo atual.

As que faltam a Ira, demônio Azozzel e Preguiça, demônio Belphegor não se enquadram na discussão.

Como vemos o mercado, através do controle da Imprensa, o que é evidente, já que o controle de verbas da publicidade vem dele, inverteu o mecanismo religioso de controle que predominou durante toda idade média, como herdeiro da mitologia e das religiões anteriores ao Cristianismo.

No Brasil como todos podem notar, ao tentar sintonizar uma rádio FM determinada, teremos grande dificuldade dado o grande numero de rádios Evangélicas ocupando a maioria do espaço. Todos os canais de televisão, se exceção apresentam programas relacionados às novas igrejas. Na Câmara dos Deputados, a bancada dos ditos Crente é uma das mais fortes e mais unida. Como ocorre isto e por quê?

A religiosidade milenar não desaparece simplesmente do dia para a noite, ela permanece na população. Como o novo sistema é muito recente, as novas seitas, aproveitando-se do estimulo ao consumo e provavelmente estimulado pela classe produtora, lembrar que nada em politica acontece por acaso, usou um artificio para se firmar e ajudar o mercado. Como?

Na Idade Média acreditava-se, seguindo a tradição greco-romana que: Tudo que existe na terra é cópia de objetos perfeitos que existem no céu. São apenas representações. Ou seja, tudo que tenho é apenas cópia. Assim sendo, usando o imaginário que ainda está impregnado na população, esta cópia foi transformada em propriedade. Basta ao adquirir um carro, por exemplo, colocar um adesivo dizendo: Pertence a Jesus. Feita a substituição, paramos de consumir e o consumo passa para responsabilidade divina. Deste modo podemos comprar sem culpa, já que não somos nós os responsáveis.

O grande problema é que em breve estaremos consumindo três vezes mais que o planeta pode nos oferecer, o que logicamente provocará mais fome e miséria nas populações marginais e menos privilegiadas. Atualmente a miséria atinge a casa de bilhão e deverá aumentar.

Por outro lado, nações com menor território ficarão cada vez mais dependentes de nações produtoras e se repetirão crises como a atual crise da Europa e EUA.

A previsão de futuro não é boa se este sistema continuar. A devastação deverá ser muito grande, acompanhada de miséria de grande parte da população. Como sabemos que a história não volta, urge encontrar novos rumos.

 

11/11/12

Tony-poeta

 

 

 

 

 

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