sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A RÃZINHA


A RÃZINHA


 

Nos finais de semana, a Represa de Guarapiranga era um ponto de atração. Descendo da Igreja de Santo Amaro, no bairro do mesmo nome, rapidamente se chegava a suas margens. Não havia industrialização. O bairro era predominante composto por paulistanos e uma colônia de alemães sitiantes. As águas eram limpas.

Conheci num domingo. Havia chovido no sábado, as praias que a rodeavam estava com poças de água. Chegamos de ônibus, raras famílias tinham veículos próprios. Fomos diretos até a barca que fazia a travessia. Era uma barcaça ampla com assentos, apesar de ser muito curta a viagem e, nos dirigimos ao restaurante da outra margem. Era um restaurante de luxo para época. Era um passeio chique.

O almoço deixou minha mãe vaidosa, o garçom conhecia meu pai e pediu para atendê-lo, mesmo sendo outra praça. Não lembro o que comemos, foi uma refeição demorada, pelo menos na minha imaginação de criança, creio que tinha uns cinco anos. Após todo atendimento diferenciado retornamos a outra margem. Estava formando chuva.

O ponto de ônibus ficava atravessando a rua, frente a ele era a represa com uma pequena praia cheia de águas do dia anterior. Fiquei olhando, meus pais se distraíram aguardando a condução.

Numa das coleções de água, alguns girinos tinham acabado de se transformar em pequenas rãs. Conhecia o bichinho e queria um. Tinha conseguido uma rã uns anos antes, era bem pequeno, levei-a numa caixa de fósforos. Não lembro quem me deu. Ao mostrar para minha mãe, o animalzinho pulou e levei umas boas palmadas. Não havia livros de psicologia, nem estatuto do menor na ocasião.

Agora tinha chance de recuperar meu bichinho de estimação. Achei uma caixa de fósforos, o que não foi difícil, já se jogava lixo ao chão e não tinham inventado isqueiros. Meu pai não fumava, mas o resto da cidade, sim. Não sei como capturei rapidamente uma e coloquei a caixa no bolso, a calça tinha um.

Começou a chover, o ônibus, geralmente vazio, lotou. Iriamos até o Largo Treze, onde pegaríamos o Anhangabaú para descermos na Nove de Julho, próximo onde morava. O ônibus estava lento, apesar da pequena distância, começou a subir para o largo.

Fiquei preocupado com meu animalzinho: E se ele não estiver respirando direito? Será que ele está bem? E outros traços obsessivos precoces que me ocorriam apesar de não ter qualquer conhecimento de respiração e saúde. Até que pensei:

- Se abrir bem pouquinho a caixa dá para ver se o animal está bem e se não o machuquei.

 Num momento de distração de meus progenitores, abri bem pouquinho a caixa e a rãzinha pulou no ônibus cheio. Logo alguém gritou; eu preocupado queria salvar meu mascote, em risco com aquela multidão de gigantes. Para uma criança pequena, todos os adultos são gigantes. Foi aí que novamente levei umas palmadas de corretivo e a rã sumiu. Deve ter se escondido em baixo de algum banco.

Nunca mais tive batráquios, como animal de estimação.

 

15/12/12

Tony-poeta

 

 

 

 

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