A RÃZINHA
Nos finais de semana, a Represa de Guarapiranga era um ponto
de atração. Descendo da Igreja de Santo Amaro, no bairro do mesmo nome,
rapidamente se chegava a suas margens. Não havia industrialização. O bairro era
predominante composto por paulistanos e uma colônia de alemães sitiantes. As águas
eram limpas.
Conheci num domingo. Havia chovido no sábado, as praias que
a rodeavam estava com poças de água. Chegamos de ônibus, raras famílias tinham veículos
próprios. Fomos diretos até a barca que fazia a travessia. Era uma barcaça
ampla com assentos, apesar de ser muito curta a viagem e, nos dirigimos ao
restaurante da outra margem. Era um restaurante de luxo para época. Era um
passeio chique.
O almoço deixou minha mãe vaidosa, o garçom conhecia meu pai
e pediu para atendê-lo, mesmo sendo outra praça. Não lembro o que comemos, foi
uma refeição demorada, pelo menos na minha imaginação de criança, creio que
tinha uns cinco anos. Após todo atendimento diferenciado retornamos a outra
margem. Estava formando chuva.
O ponto de ônibus ficava atravessando a rua, frente a ele
era a represa com uma pequena praia cheia de águas do dia anterior. Fiquei
olhando, meus pais se distraíram aguardando a condução.
Numa das coleções de água, alguns girinos tinham acabado de
se transformar em pequenas rãs. Conhecia o bichinho e queria um. Tinha
conseguido uma rã uns anos antes, era bem pequeno, levei-a numa caixa de
fósforos. Não lembro quem me deu. Ao mostrar para minha mãe, o animalzinho
pulou e levei umas boas palmadas. Não havia livros de psicologia, nem estatuto
do menor na ocasião.
Agora tinha chance de recuperar meu bichinho de estimação.
Achei uma caixa de fósforos, o que não foi difícil, já se jogava lixo ao chão e
não tinham inventado isqueiros. Meu pai não fumava, mas o resto da cidade, sim.
Não sei como capturei rapidamente uma e coloquei a caixa no bolso, a calça
tinha um.
Começou a chover, o ônibus, geralmente vazio, lotou. Iriamos
até o Largo Treze, onde pegaríamos o Anhangabaú para descermos na Nove de
Julho, próximo onde morava. O ônibus estava lento, apesar da pequena distância,
começou a subir para o largo.
Fiquei preocupado com meu animalzinho: E se ele não estiver
respirando direito? Será que ele está bem? E outros traços obsessivos precoces
que me ocorriam apesar de não ter qualquer conhecimento de respiração e saúde.
Até que pensei:
- Se abrir bem pouquinho a caixa dá para ver se o animal
está bem e se não o machuquei.
Num momento de
distração de meus progenitores, abri bem pouquinho a caixa e a rãzinha pulou no
ônibus cheio. Logo alguém gritou; eu preocupado queria salvar meu mascote, em
risco com aquela multidão de gigantes. Para uma criança pequena, todos os
adultos são gigantes. Foi aí que novamente levei umas palmadas de corretivo e a
rã sumiu. Deve ter se escondido em baixo de algum banco.
Nunca mais tive batráquios, como animal de estimação.
15/12/12
Tony-poeta
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